Vá com carinho no que vai dizer

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Um dia desses estava ouvindo a canção “As Palavras”, de Vanessa da Mata. Gosto da doçura da Vanessa cantando esta música. Gosto da importância que ela dá as palavras, estas amigas tão queridas.

Mas hoje eu queria que esta canção fosse ouvida como um apelo aos pregadores. Essa foi uma aplicação totalmente arbitrária que fiz quando eu a ouvi. Lembrei dos momentos em que estou em um púlpito, ministrando a Palavra de Deus e do cuidado que eu tenho que ter neste momento. Lembrei que pessoas tomam decisões tocadas por algo que ouviram no culto, decisões que afetam todas as esferas da sua vida. Quando lembrei, senti o peso da responsabilidade que é se colocar no papel de despenseiro do Senhor.

Sei que as vezes “as palavras saem quase sem querer”, mas isso não pode ser admitido por nós, pregadores. Não podemos sucumbir à linguagem descuidada, inconsequente, pois um devaneio nosso pode prejudicar alguém. E isso é um peso grande demais para ser levado levianamente.

“Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição”

A nossa função não é condenatória. A expressão “fulano prega o chicote” devia nos causar repulsa. Não é este o ministério da reconciliação. Não agrida as pessoas, ovelhas amadas do Senhor, sob o falso pretexto de santidade.  Não se esconda atrás do púlpito para dar recados.  Antes, leve-as ao entendimento que aos pés da Cruz existe graça suficiente para nos absolver da culpa do pecado e do poder do pecado nas nossas vidas.

Querido, as pessoas não precisam da nossa condenação, isto elas já tem. Suas consciências, famílias, sociedade, todos já as condenaram – e diga-se de passagem, normalmente com razão. De nós elas precisam conhecer a Graça de Cristo, que se fez maldito na Cruz para que fôssemos feitos família de Deus e amados do Pai. O castigo que nos traz a Paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras nós somos sarados.

“Faça luz onde há involução”

Estabeleça a Cultura do Reino. Mostre, pela Palavra, que existe um caminho mais excelente, o Amor. Pregue incessantemente que este padrão caído do mundo e da sociedade corrompida não é a única opção. Que o Reino de Deus nos é chegado, e gera uma insurreição silenciosa, em cada pessoa que é transformada pelo poder do Evangelho.  Que o Espírito Santo atua poderosamente, e onde havia o pecado,  a Graça foi (e é ) mais abundantemente derramada.

“Escolha os versos para ser meu bem
E não ser meu mal
Reabilite o meu coração”

E isto, querido, passa pelas suas escolhas para o sermão. Ore e escolha os versos crendo que a PALAVRA DE DEUS é poderosa para transformar o ser humano, que não é a nossa habilidade, ou retórica, mas o Poder presente no ato da Criação – A PALAVRA DE DEUS – sendo ministrada através da Bíblia – A PALAVRA  DE DEUS-, e que devemos apenas expor aquilo que Deus mesmo diz  – A PALAVRA DE DEUS.  Somente ela pode reabilitar o nosso coração.

“As palavras fogem
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer”

Meu irmão, vá e faça a obra. Vá por Jerusalém, Samaria, até os confins da terra.  Mas vá com carinho no que vai dizer.

Na Paz.

SQN – Só QUEM não

Acho interessante o uso do SQN no fim de frases irônicas. SQN.

Pelo que me lembro, a utilização desta sigla começou a uns 2 ou 3 anos atrás, com a popularização de redes sociais. Mas penso que é um indicador de algo muito profundo. É o símbolo da nossa incapacidade de compreender um texto.

Só QUEM não consegue ler o texto, perceber as nuances do que está sendo construído, precisa da evidência que estão sendo irônicos.  Isso é algo que deveria ser percebido através da nossa sensibilidade.  Lamentavelmente,  se não colocar a dita sigla, como uma placa sinalizando curva perigosa, derraparão na compreensão do dito.  É a prova de que não somos bons leitores.

Só QUEM não escreve textos precisa lançar mão deste recurso. O sabor do texto está na conversa com o leitor, que vai construir o seu entendimento a partir do diálogo autor-texto-leitor, onde o próprio texto será acrescido da compreensão do leitor.  De certa forma, o texto só é do autor até chegar no papel. De lá em diante, o leitor se apropria dele, e vivencia-o.

E, cá entre nós, é um recurso feio. Não SOQUE não a nossa língua.  Ela é agredida com a feiura desta expressão.  E o papel de desconstruir o belo é contribuída pela obviedade dela. É explicar a piada; se o fizermos, matamos o riso. A beleza do texto está no surpreendente. A graça do texto é a surpresa.  O “SQN” é o auto-spoiler. Gol contra total. É o trailer que conta o final do filme.

Sabemos Que Nada disso seria assim se desde pequenos aprendêssemos a gostar de ler. Por exemplo, o humor leve do Fernando Sabino e Luis Fernando Veríssimo; ou a ironia fina de Machado de Assis, com certeza nos vacinaria. Criaríamos robustos anticorpos para resistir ao uso viral do “SQN”.

Sabe, Queridos, Navegar na net é bom. Aproxima, encurta distâncias, democratiza a comunicação, etc e tal. Mas faça um favor a si mesmo. Saía da rede, abra um bom livro, e aproveite a viagem.

Uma mente precisa de livros como uma espada necessita de uma pedra de amolar se manter afiada.” – Lannister, Tyrion*

 

*personagem das Crônicas de Gelo e Fogo, George R.R. Martin.

Carvalho Velho

1422609_4962616522217_1991530556_nEm maio de 2014, o meu pai faleceu. As letras ficaram embaralhadas, agarram-se nas pontas dos dedos e não chegaram mais ao teclado do meu computador. Emudeci pela perda do véio. Só agora desgarraram-se.

Carvalho velho, marcado
traga suas raízes que deixastes por aí cortadas,
lascas de ti tiradas
pedaços com pressa de partir.

Carvalho velho, sombreado
segurança na chuva, abrigo
referência de longe, caminho
Ninho de quem cedo quis voar.

Carvalho velho, caído
leve seu coração que não cabe – crescido;
mas deixe-nos a saudade
deixe-nos somente o bom lembrar.

O que sobrou do Golpe de 64?

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Dia 31 de março completamos 50 anos do Golpe Militar que inciou um ciclo de 21 anos de ditadura. Mas, entre discurso inflamados, viúvas da ditadura, palavras de ordem estúpidas, o que restou para nós?

Sempre que ouço comentários sobre o período, os saudosistas pintam um cenário aquém da realidade.  “Queria ver no tempo dos militares, esses malandros …” e nas reticências o sentimento de ordem e paz pública, que  sufoca a verdadeira ordem, aquela em que não é necessário suprimir os direitos civis, as liberdades individuais. “Paz sem voz não é paz, é medo“*.

A ideia que se quer passar é que naquele momento histórico tudo ia bem: os pobres não eram tão pobres, as escolas não eram tão ruins, os bandidos não eram tão maus. Em que se pese que existe um senso comum que o ensino em geral tem retrocedido,  a definição mais exata deste discurso é o anacronismo**.

Por outro lado sempre que eu penso sobre luta contra Regime Militar, percebo a profundidade da sentença: “Ou você morre herói, ou vive o suficiente para se tornar o vilão”***.  Existiu uma geração engajada, que (não estou levando em consideração o mérito da questão) acreditava que podiam fazer a diferença. Eles acreditavam em mudança política, em formas de governo que beneficiariam o povo.  Porém, em sua maioria, tornaram cínicos manipuladores, usufruindo das benesses do poder, e enriquecendo ilicitamente.

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Tenho nojo dos “Genoínos” e afins, que começaram na guerrilha e terminaram na quadrilha. Tenho nojo da
caricatura que se tornaram, com o punho levantado e capinha de super heróis as costas, esquecendo-se que o principal adorno do homem é a vergonha na cara, esta definitivamente sumida.

Veja bem, minha bronca não é somente com o Genoíno, é com toda a geração revolucionária da sua época****, que hoje mantém o discurso de esquerda para iludir o eleitorado, enquanto fica “em casa, guardada por Deus (sic), contando vil metal“*****. Da esquerda brasileira, nos sobrou a frase feita, a palavra de ordem,  a conversa pra boi dormir, e uma teoria social sem a menor aplicação prática. 

A consequência  é a pior possível. Estamos em meio a uma esquerda falida, uns jovens imbecis metidos a revolucionários, tipo anonymous e black bostas, ops, black blocs, e uma direita que insiste em absorver o pior do capitalismo. A ignorância social e política chega a índices “australopitéticos”.

Enfim, o que restou do Golpe de 64 foi cinismo e desilusão.  A falha em qualquer sistema político é que ele  teima em resolver o problema social, mas esquece de resolver o problema do homem.  O ser humano é mau, pecador, egoísta, portanto preso ao pecado e ao sistema mundano. Como pode este mesmo ser humano produzir uma sociedade justa e igualitária antes de ter sido transformado em sua estrutura básica?  Ora, se eu sou mau e egoísta, o que se pode esperar da minha ação em sociedade? Óbvio que irei tomar a coisa pública para benefício privado.

Talvez você pense que estou errado neste ponto, mas basta olhar a história humana. Esta perspectiva mais ampla prova a verdade do pressuposto cristão – Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.  Por isso é necessário nascer de novo.

No fim, o que me restou do Golpe, e do posterior desenrolar da nossa história, é a esperança em Cristo. No homem e nos seus modelos, definitivamente, não dá.

 

*Trecho da canção “Minha Alma”, do Rappa

** Anacronismo é basicamente utilizar conceitos e contextos de uma determinada época em outra. Para saber mais, click AQUI.

***Frase icônica do filme Batman – o Cavaleiro das Trevas

**** Óbvio que existem exceções, e pessoas que ainda conseguem manter a integridade e o idealismo, como o meu pai, Alcir Matos. Mas são raridades.

***** Trecho adaptado da canção “Como nossos pais”, de Belchior

Conflito entre a Forma e a Essência no Meio Gospel

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Ouvia as músicas do Rodolfo Abrantes na época do Raimundos. Gostava da pegada roqueira, e das letras, que combinavam perfeitamente com o meu “sem-futurismo”* da época.

Tive um impacto quando da saída dele do Raimundos devido a sua conversão ao evangelho, em 2001. Achei uma atitude corajosa, deixar a banda no auge do sucesso, por questões de sinceridade e princípios.
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Gostei do trabalho do Rodox, mas depois de um tempo não me atentei mais para a vida e carreira dele. Esqueci-me.

Em paralelo a isso, vem a minha própria conversão em setembro de 2003, e o as tentativas de encontrar um todo coerente para a minha fé, sobreviver ao movimento neo-pentecostal e retetético.

Sempre observei  a facilidade que as pessoas tem para se encaixar no formato gospel, por causa da minha dificuldade em ajustar-me ao padrão estabelecido.  Quem me acompanha no blog, ou já me ouviu pregando, ou  foi (é) aluno meu sabe bem disto.

Exemplificando, é o caso do cara que era cantor de banda de forró, entra pra igreja, muda o formato e permanece sem alterações essenciais. Se a temática que estava por trás das músicas era o prazer e satisfação mundana, o mesmo padrão permanece como pano de fundo da música gospel.

Ele entra no padrão mais tosco de ser evangélico. É caricato, sem particularidades que expressem a multiforme Graça de Deus. O modelo “Glórias e Aleluias e Lambachurianderras” sem evidência de conversão que mostrem o Fruto do Espírito e o novo nascimento. A galera que trocou a roupa, mas não o coração.

Pra ser sincero não escuto música gospel. Eu louvo ao Senhor através de músicas que falem Dele, e do Seu penoso trabalho.

Pra ser sincero não entendo que adoração é levantar a mão durante a execução da música, fechar o olhos e passar sete minutos repetindo duas ou três frases.

Pra ser sincero não gosto de show gospel, e não o vejo como serviço ao Reino. É somente um negócio, mero entretenimento.

Em meio a esse cenário, de indústria cultural gospel, me surpreendi novamente com o irmão Rodolfo. O cara fora do padrão estético aceito, barbado e tatuado, e consequentemente fora do padrão de “santidade externa”, levanta-se como profeta para denunciar o mercado e a idolatria gospel.thalleco

Sem negociar a Verdade por conveniência, teve ousadia de fazer isso em um evento que ocorreu na Lagoinha. Será que o Thalles Roberto e o seu Thalleco**, ouviram a ministração? Oro pra que todos que ouviram a Palavra encarem as implicações da mesma.

http://www.youtube.com/watch?v=6ftT82r1-JQ

No meio formatado e lambido da industria gospel, o roqueiro (vale lembra que para setores evangélicos, o Rock é do “cão”) foi  quem, com a batida pesada e guitarra, me conduziu a adoração, com a letra que reconhece a fragilidade humana e a dependência de Deus e do seu Poder.

“Eu não posso me conformar
Com esse nível raso
O meu poder humano
Não tem poder pra trazer o teu reino aqui
Minha porção vem do céu
Eu tenho fome de ti, Senhor
Fome de ti, Senhor” – Nível Raso – Abrantes, Rodolfo

Entre formatos, modelos e indústrias, a essência que devemos buscar é de ser servos. O servo é aquele que com o fruto digno de arrependimento expresso na sua vida, nas suas decisões de vida, fortalece a vontade pela busca da “santidade interna”, de transformação. Não podemos mais inverter o começo pelo fim, a causa e a consequência, colocar o carro na frente dos bois.

Em dias assim fico em paz mesmo sabendo que eu talvez nunca entre dentro do esquadro, mas sou grato por não precisar. O Senhor, pela sua misericórdia, tem me permitido servi-Lo pelo amor que há em Cristo.

 

*”Sem-futuro” é uma expressão nordestina, utilizada para os cabras, que de tão sem noção e lesados, são, de fato, sem futuro.

** Thalleco é um ridículo boneco do ídolo gospel Thalles Roberto, ridiculamente vendido por ele mesmo, para crentes absolutamente ridículos comprarem.

Beijinho no Ombro tem Sabor de Mel

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Tá bom, confesso meu pecado. Eu vi o clipe da Valesca, da música “Beijinho no ombro”. Não, não vou colocar o link, pois não quero ser culpado pelo sofrimento de vocês. Como atenuante, posso dizer que fui motivado por uma matéria que dizia que o gasto com o mesmo fui na casa de um milhão de reais, e fiquei curioso com a história. Ficou um lance meio “Lady Gaga Xing Ling” .
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Confesso também que o meu primeiro pensamento quando ouvi o início da canção foi: “É música gospel?”. Sério, não foi piada. Sério mesmo.

Antes de me jogarem pedras, peço a boa vontade de pensar um pouco comigo sobre isso. Segue como citação as primeiras frases da dita canção:

“Desejo a todas inimigas vida longa
Pra que elas vejam a cada dia mais nossa vitória”

Hum…  fazendo um rápido paralelo, posso citar como tendo a mesma categoria de pensamento e intenção:

“Quem te viu passar na prova
E não te ajudou
Quando ver você na benção
Vão se arrepender
Vai estar entre a plateia
E você no palco” – Sabor de Mel, Damares

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A música cantada pela Damares se tornou um ícone de como é um louvor que não louva à Deus, e sim ao homem, na minha opinião. O desejo de vingança, de esfregar na cara dos “inimigos/ quem não te ajudou” a tua vitória é um desejo em si pecaminoso.  Não combina com o Jesus da Sagradas Escrituras. Nem com o ensino Paulino.  Nem com a natureza imprecatória de algumas passagens bíblicas.

1 – Como Jesus nos ensina:

“Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;” (Mateus 5:44)  De certa forma ele também vincula a nossa possibilidade de perdão com a capacidade de perdoar, na oração do Pai Nosso (Mateus 6.22), como um indício de que reconhecemos a grandiosidade do fato de sem mérito algum termos recebido a Graça da Salvação por obra exclusiva Dele.

Neste sentido, de acordo com as duas passagens citadas, o desejo de vingança expresso neste tipo de música é totalmente contrária a nossa filiação com o Senhor. Em outras palavras, se tu sentes assim, é necessário nascer de novo. (João 3)

2- Como Paulo nos ensina:

Em Romanos 12:14-21, o apóstolo Paulo explica isso detalhadamente, mas vou tentar sintetizar. O ponto central é a Soberania de Deus. Ele é Rei. E Ele sabe de todas as coisas, e nada está fora do seu perfeito e santo desígnio. E mesmo Deus nos chama para sermos agentes da Sua Graça salvadora, logo eu devo abençoar os que me perseguem, para que sejam alcançados pela Graça e sejam transformados de Saulo para Paulo .

Tenho que entender que sou um subversivo do Reino de Deus, que combate o sistema mundano instaurando um novo padrão de relacionamento a partir de mim, e gerar a paz com os outros, fazendo eco as bem-aventuranças, pois “bem aventurados são os pacificadores”.

Tenho que entender que o juízo contra o ímpio será dado diretamente pelo único Justo Juiz, pois somente ele tem acesso a todas as informações e variáveis. Somente a sua justiça é reta. Por isso que a vingança é Dele, diz o Senhor.

E por isso não cabe a mim pedir o juízo, mas a misericórdia. O juízo já é Dele.

3 – Ensino a partir de textos imprecatórios:

Nesta hora, imagino que já deve ter alguém, possivelmente com formação neo-pentecostal, pensando em situações tipo: “E o salmo 23.5, que diz ‘preparas um mesa perante mim, na presença dos meus inimigos’, hein ? Como fica, irmão Alcir?”

Resposta a) Fica do mesmo jeito 🙂 .

Resposta b) O texto específico tem mais o sentido de que, mesmo que eu esteja cercado por inimigos, a minha comunhão/ mesa permanece e o meu cálice/ unção / presença do Santo Espírito continua a jorrar na minha vida. Trata  sobre permanecer em Cristo, o Sumo Pastor,  a despeito de qualquer adversidade. Por isso que eu posso andar pelo vale da sombra da morte sem medo algum.

Resposta c) Existem várias orações imprecatórias (ou “amaldiçoantes”) na Bíblia. A gente teria que ver um por um pra ser mais preciso, porém a ideia geral nestas passagens é que existe a consequência inevitável para os que permanecerem na iniquidade, e nos tirar da visão toddynho do evangelho de Cristo.

Sim, existe maldição na impiedade, e Cristo se fez maldito na Cruz para pagar esta mesma iniquidade.

Sim, Deus tem uma justa e perfeita ira que se derramará sobre todos os que permanecerem alheios a Cristo.

Sim, o meu coração, quanto mais ligado a beleza de Cristo, tanto mais irá irar-se e contra o pecado, o sistema corrompido pelo pecado, e contra o nosso adversário e sua obra nefasta. Mas não podemos esquecer que a nossa luta não é contra a carne, nem contra o sangue. Não é contra as pessoas.

Para finalizar, fica a pergunta:  Como pode, músicas com o sentimento totalmente mundano serem tidas como louvor?  A reprodução do sistema e sentimentos carnais  aceitos sem nenhum critério dentro do arraial?

Friso também que não tenho pessoalmente nada contra a Damares, e nem contra a Valesca. Não as conheço, e nem estou as avaliando como pessoas. Só não gosto do trabalho de ambas.  E, infelizmente para a Igreja de Cristo, existem mais similaridades do que eu gostaria.

Despeço-me com ósculo santo, no ombro.

 

P.S.: Segue link de um artigo bacana sobre orações imprecatórias. Agradeço a galera do blog Monergismo.

P.S. ²: Não quero implicar com a Damares, mas vale a pena dar uma olhada neste post do Púlpito Cristão.

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Acho que pela primeira vez me sinto tranquilo. Talvez você não saiba como é difícil para mim chegar aqui, respirar fundo e sentir apenas paz.

Talvez seja a tal maturidade. Talvez seja mero resultado de uma vida harmonizada, onde as peças começam a estar bem encaixadas e funcionando bem. Trabalho, ministério, família, amor, atividade física. Tempo pra cuidar do corpo, da mente, e do espírito.

Mas, mais provavelmente eu esteja aprendendo a viver na base do orare et labutare, e aplicando-o a minha vida, não somente a minha hermenêutica. Calvino está certo.

Os calos das mãos somam-se a compreensão que tudo vem Dele, e que “todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”. Que Cristo cuida de nós e dos nossos, por causa do profundo amor que ele é.

Aos 33 estou bem, obrigado.

E a maior conquista que tive foi abrandar meu coração. Fica mais confortável para os que moram nele.

Inculto de Jovens

Vi por esses dias um convite para um Culto de Jovens. Hoje em dia, com o intuito de atrair pessoas, tem-se feito um esforço criativo de inventar algo que chame a atenção da garotada, o que por si só já é um indício de como estamos distantes do Evangelho da Cruz.  Afinal, o prazer de adorá-Lo e estar na presença de seu Santo Espírito já deveria nos bastar.

Mas, nessa ânsia de novidade, nos deparamos com verdadeiras atrocidades. Abaixo, segue a “arte” do convite. Única alteração que fiz foi grosseiramente apagar o endereço da igreja.

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Sem contar com o gosto duvidoso, a primeira coisa que me chamou a atenção foi a mensagem que o convite traz. Um cabra pulando com uma guitarra, utilização do preto, está, em termos de linguagem muito mais próximo de um show de Rock do que com um culto a Deus.

O texto que serve como ancoragem é terrível, tanto linguisticamente, pois “a gente” somos nós, e “agente” é o 007; quanto teologicamente.

Enlouquecer?  Seríamos nós os que perecem? Afinal, o princípio bíblico é que “(…) a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”. (1 Coríntios 1:18). Na realidade, chegar-se a Cristo não é enlouquecer, é retomar a razão. Afinal, prestamos nosso Culto Racional, através da transformação do nosso entendimento, e buscamos ter a mente de Cristo, algo que não pode, sob nenhum aspecto, ser louca, pois a própria Razão é um atributo de Deus compartilhado com os homens.

Sei que está na modinha gospel a história de ser louco por Jesus. Isso é coisa de cheirador de Bíblia. Se buscarmos ler as Escrituras, ao invés de cheirar ou comer, ganharíamos muito.

Outra coisa que é modinha gospel é a aplicação totalmente equivocada das palavras do apóstolo Paulo em 1 Coríntios 9:22 “Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns”.  Utilizam este versículo para defender um modernismo na igreja, visando atrair os descrentes. Mas, se esta aplicação fosse correta, poderíamos inferir que devemos nos drogar para ganhar os drogados, adulterar para ganhar os adúlteros, mas simples bom senso já evidencia o absurdo da proposição.  O que o texto realmente vai tratar é sobre empatia e compaixão.E por isso mesmo não invalida a necessidade da Igreja ser Santa.  Nas palavras de Jonathan Edwards: “a igreja deve ser visível, e deve ser visivelmente igreja”.

Mas o pior ainda estar por vir. Devido a minha falta de conhecimento do inglês, pedi ajuda ao amigo e novo “pai dos burros”, o google, para saber o que significa “Freak”, parte do nome do culto. Abaixo, print:

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Talvez o indivíduo que colocou esse nome no culto estivesse pensando em “extravagância”. Se for, já está errado, pois cultos de adoração extravagante é um expressão que remete a inúmeros modismos e heresias modernas, como anjos cutucadores,  anjos massageadores,  e toda uma série de baboseiras neo-pentecostais.

Porém, a escolha do nome é ainda mais infeliz quando se percebe as outras possíveis traduções de “freak”: aberração, capricho, anomalia, aborto, fantasia, esquisito, grotesco, esdrúxulo. 

Meu Jesus, que igreja é essa que estamos construindo?  Que falta de percepção das coisas de Deus! Eu não tenho como descrever a indignação  que sinto em perceber que caminhamos a passos largos para uma apostasia institucional.  Cadê o pastor desse indivíduo, que permite que esse tipo de insulto a Cristo ocorra debaixo do seu nariz?  Quem aprovou essa barbárie?

A igreja está acéfala? Os crentes, firmados na Palavra, estão onde, pensando em que, para não perceber que se um cego guiar outro, ambos cairão? O nosso compromisso é com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra, e não com modinhas e atrair bodes. Como já foi pregado por Charles Spurgeon, estamos apascentando ovelhas ou entretendo bodes?

Pense nisso.

#Podeisso,Arnaldo?