Acho interessante o uso do SQN no fim de frases irônicas. SQN.
Pelo que me lembro, a utilização desta sigla começou a uns 2 ou 3 anos atrás, com a popularização de redes sociais. Mas penso que é um indicador de algo muito profundo. É o símbolo da nossa incapacidade de compreender um texto.
Só QUEM não consegue ler o texto, perceber as nuances do que está sendo construído, precisa da evidência que estão sendo irônicos. Isso é algo que deveria ser percebido através da nossa sensibilidade. Lamentavelmente, se não colocar a dita sigla, como uma placa sinalizando curva perigosa, derraparão na compreensão do dito. É a prova de que não somos bons leitores.
Só QUEM não escreve textos precisa lançar mão deste recurso. O sabor do texto está na conversa com o leitor, que vai construir o seu entendimento a partir do diálogo autor-texto-leitor, onde o próprio texto será acrescido da compreensão do leitor. De certa forma, o texto só é do autor até chegar no papel. De lá em diante, o leitor se apropria dele, e vivencia-o.
E, cá entre nós, é um recurso feio. Não SOQUE não a nossa língua. Ela é agredida com a feiura desta expressão. E o papel de desconstruir o belo é contribuída pela obviedade dela. É explicar a piada; se o fizermos, matamos o riso. A beleza do texto está no surpreendente. A graça do texto é a surpresa. O “SQN” é o auto-spoiler. Gol contra total. É o trailer que conta o final do filme.
Sabemos Que Nada disso seria assim se desde pequenos aprendêssemos a gostar de ler. Por exemplo, o humor leve do Fernando Sabino e Luis Fernando Veríssimo; ou a ironia fina de Machado de Assis, com certeza nos vacinaria. Criaríamos robustos anticorpos para resistir ao uso viral do “SQN”.
Sabe, Queridos, Navegar na net é bom. Aproxima, encurta distâncias, democratiza a comunicação, etc e tal. Mas faça um favor a si mesmo. Saía da rede, abra um bom livro, e aproveite a viagem.
“Uma mente precisa de livros como uma espada necessita de uma pedra de amolar se manter afiada.” – Lannister, Tyrion*
*personagem das Crônicas de Gelo e Fogo, George R.R. Martin.