A Troca

fariseus

Troca.
Claro e escuro em tempos opostos,
formas opostas.
Velha história do boi e mosquito:
opção errada ao engoli-lo.

Troca.
Trocam a Verdade
pois basta-lhes o engodo.
Pobre do urubu, agora cor de rosa.

Seguem as pílulas douradas.
Tolos, fúteis e inconsequentes devaneios.
A heresia acompanha até a adoração,
ao Umbigo Rei, Narciso mestre.

Caminho errado!
Largo demais, fácil demais.
Beco sem saída.
As vezes, só se avança recuando.

Precisamos, urgentemente, voltar para o Evangelho conforme as Escrituras. Esse arremedo farisaico, sem poder e verdade, ofende a Deus e macula a Sua Glória.

Convite à Doce Revolução

por Caio Fábio.

foto por Alcir Filho

Artigo 1 – Fica decretado que agora não há mais nenhuma condenação para quem está em Jesus, pois o Espírito da Vida em Cristo livra o homem de toda culpa para sempre.

Artigo 2 – Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive os sábados e domingos, carregam consigo o amanhecer do Dia Chamado Hoje, por isso qualquer homem terá sempre mais valor que as obrigações de qualquer religião.

Artigo 3 – Fica decretado que a partir deste momento haverá videiras, e que seus vinhos podem ser bebidos; olivais, e que com seus azeites todos podem ser ungidos; mangueiras e mangas de todos os tipos, e que com elas todo homem pode se lambuzar.

Parágrafo do Momento:

Todas as flores serão de esperança, pois todas as cores, inclusive o preto, serão cores de esperança ante o olhar de quem souber apreciar. Nenhuma cor simbolizará mais o bem ou o mal, mas apenas seu próprio tom, pois o que daí passar estará sempre no olhar de quem vê.

Artigo 4 – Fica decretado que o homem não mais julgará o homem, e que cada um respeitará seu próximo como o Rio Negro respeita suas diferenças com o Solimões, visto que com ele se encontra para correrem juntos o mesmo curso até o encontro com o Mar.

Parágrafo que nada pára:

O homem dará liberdade ao homem assim como a águia dá liberdade ao seu filhote para voar.

Artigo 5 – Fica decretado que os homens estão livres, e que nunca mais nenhum homem será diferente de outro homem por causa de qualquer Causa. Todas as mordaças serão transformadas em ataduras para que sejam curadas as feridas provocadas pela tirania do silêncio. A alegria do homem será o prazer de ser quem é para Aquele que o fez, e para todo aquele a quem encontre em seu caminhar.

Artigo 6 – Fica ordenado, por mais tempo que o tempo possa medir, que todos os povos da Terra serão um só povo, e que todos trarão as oferendas da Gratidão para a Praça da Nova Jerusalém.

Artigo 7 – Pelas virtudes da Cruz fica estabelecido que mesmo o mais injusto dos homens que se arrependa de seus maus caminhos terá acesso à Arvore da Vida, por suas folhas será curado, e dela se alimentará por toda a eternidade.

Artigo 8 – Está decretado que pela força da Ressurreição nunca mais nenhum homem apresentará a Deus a culpa de outro homem, rogando com ódio as bênçãos da maldição. Pois todo escrito de dívidas que havia contra o homem foi rasgado, e assustados para sempre ficaram os acusadores da maldade.

Parágrafo único:

Cada um aprenderá a cuidar em paz de seu próprio coração.

Artigo 9 – Fica permanentemente esclarecido, com a Luz do Sol da Justiça, que somente Deus sabe o que se passa na alma de um homem. Portanto, cada consciência saiba de si mesma diante de Deus, pois para sempre todas as coisas são lícitas, e a sabedoria será sempre saber o que convém.

Artigo 10 – Fica avisado ao mundo que os únicos trajes que vestem bem o homem diante de Deus não são feitos com pano, mas com Sangue; e que os que se vestem com as Roupas do Sangue estão cobertos mesmo quando andam nus.

Parágrafo certo:

A única nudez que será castigada será a da presunção daquele que se pensa por si mesmo vestido.

Artigo 11 – Fica para sempre discernido como verdade que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem não ama jamais enxergará qualquer beleza em nenhum lugar, nem mesmo no Paraíso ou no fundo do Mar.

Artigo 12 – Está permanentemente decretado o convívio entre todos os seres; por isso, nada é feio, nem mesmo fazer amizades com gorilas ou chamar de “minha amiga” a sucuri dos igapós. Até a “comigo-ninguém-pode” está liberta para ser somente a bela planta que é.

Parágrafo da vida:

Uma única coisa está para sempre proibida: tentar ser quem não se é.

Artigo 13 – Fica ordenado que nunca mais se oferecerá nenhuma Graça em troca de nada, e que o dinheiro perderá qualquer importância nos cultos do homem. Os gazofilácios se transformarão em baús de boas recordações, e todo dinheiro em circulação será passado com tanta leveza e bondade que a mão esquerda não ficará sabendo o que a direita fez com ele.

Artigo 14 – Fica estabelecido que todo aquele que mentir em nome de Deus vomitará suas próprias mentiras e delas se alimentará como o camelo, até que decida apenas glorificar a Deus com a verdade do coração.

Artigo 15 – Nunca mais ninguém usará a frase “Deus pensa que…”, pois, de uma vez e para sempre, está estabelecido que o homem não sabe o que Deus pensa.

Artigo 16 – Estabelecido está que a Palavra de Deus não pode ser nem comprada e nem vendida, pois cada um aprenderá que a Palavra é livre como o Vento e poderosa como o Mar.

Artigo 17 – Permite-se para sempre que onde quer que dois ou três invoquem o Nome em harmonia, nesse lugar nasça uma Catedral, mesmo que esteja coberta pelas folhas de um bananal.

Artigo 18 – Fica proibido o uso do Nome de Jesus por qualquer homem que o faça para exercer poder sobre seu próximo, e estabelecido que melhor que a insinceridade é o silêncio. Daqui para frente, nenhum homem dirá “O Senhor me falou para dizer isto a ti”, pois Deus mesmo falará à consciência de cada um. Todos os homens e mulheres que crêem serão iguais, e ninguém jamais demandará do próximo submissão, mas apenas reconhecerá o seu direito de livremente ser e amar.

Artigo 19 – Fica permitido o delírio dos profetas, e todas as utopias estão agora instituídas como a mais pura realidade.

Artigo 20 – Amém!

Li este texto do Caio no blog: Desejando Deus. Tive que reproduzi-lo aqui, por causa sua da beleza e profundidade. A Deus toda a glória. E que o nosso amém continue a ecoar, e que o Senhor escreva estas verdades nas tábuas de carne do nosso coração.

Evangelho “Lua de Cristal”


Domingo a noite. Encaminho-me para o culto. Sempre que vou para igreja, gosto de colocar na rádio evangélica, na esperança que os louvores irão tornar o trânsito menos estressante, e que chegarei lá com um estado de ânimo mais propício a adoração que o meu habitual mau-humor após dirigir.

Fiquei ainda mais feliz por que na hora em que liguei o rádio estava sendo transmitido um culto ao vivo de determinada igreja, bem na hora da pregação. Massa! Mas, infelizmente, alegria de pobre dura pouco…

Tudo pode ser, se quiser será
O sonho sempre vem pra quem sonhar
Tudo pode ser, só basta acreditar
Tudo que tiver que ser, será”

O pastor está falando sobre fé para ter uma vida vitoriosa. Cita exemplos de pessoas que acreditaram em si, se esforçaram, e chegaram onde queriam. Minha cabeça começa a fervilhar com uma pergunta: “fé em quê? Em quem?”.

O que está sendo pregado afinal? A fé em Cristo, o evangelho, a Boa Nova de salvação, ou um bando de besteirol motivacional? Infelizmente, a segunda opção. Frases de efeito estão mais pra “Lua de Cristal” do que pra Evangelho do Reino. É uma pregação para agradar multidões, encher o templo, e que não tem a menor aplicação prática. A falta de poder deste evangelho é o simples fato de que ele não é real! Não é esta a promessa que o Senhor deixou para a Sua Igreja.

Não estou dizendo que é, em si, errado tentar motivar as pessoas. É errado fazer isso dizendo que é a Palavra de Deus. Com isso, gera-se uma geração de crentes enganados, em conflito com a fé quando perceberem que a vida cristã real não é como lhe havia sido apresentado.

O evangelho é contundente: quer um teste simples? I Co 2.14 diz :”Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” Se os desejos do homem natural são plenamente atendidos pelo evangelho que é pregado, o versículo acima fica sem sentido, pois a Palavra de Deus afirma que o homem natural não compreende o Evangelho, pois este lhe parece loucura.

Porém, qualquer homem natural há de achar insano a pregação que diz: renuncie a si mesmo, pegue a sua cruz e venha.

“Vamos com você
Nós somos invencíveis, pode crer
Todos somos um
E juntos não existe mal nenhum

Criou-se nos últimos anos a ideia de que crente com o Espírito de Deus não passa por sofrimentos. Eu queria saber de onde que tiraram esta conceituação. Afinal, o livro de Jó não trata justamente sobre isso? Jesus não avisou a Pedro que Satanás haveria de peneirá-lo como trigo ( Lc 22.31)? O dia mal irá vir, mais cedo ou mais tarde, daí a necessidade de estarmos preparados para resistí-lo (Ef. 6.13).

Lua de cristal
Que me faz sonhar
Faz de mim estrela
Que eu já sei brilhar”

Pra finalizar a mensagem o preletor conta uma historinha sobre o vagalume que brilhava e a cobra que tinha inveja do seu brilho, cita uma frase que leu em um carro (um aqueles adesivos gospel): “eu não morro de inveja, mas mato muito de inveja”. E além de citar uma frase como esta, ainda tem a falta de senso de pedir para o público presente que a repetisse para o irmão do lado.

Como pode uma cegueira tão absurda como esta??? Um sentimento profundamente anti-cristão está permeando toda a frase. Como assim, fazer algo com a intenção de matar alguém de inveja? Como assim, incentivar a vanglória humana, a nojenta e abjeta vaidade do homem, o orgulho a prepotência de quem se acha melhor que o outro baseado naquilo que ele tem? Que monte de esterco é esse que vendem como se fosse o Evangelho? Como assim?

Meu coração se parte de raiva e impotência por ver o evangelho rebaixado a este ponto. Isso não é Evangelho!!! Não foi por isso o sacrifício de Jesus!!!! Jesus morreu, sorveu cada gota do cálice da Ira de Deus para que o meu pecado não me aniquilasse, por misericórdia, por causa do amor por mim, mesmo eu sendo uma criatura repulsiva de pecado ante os Seus justos e santos olhos. ISSO é a Boa Nova de Jesus: você e eu merecemos o inferno, mas Ele nos livra por amor do Seu Nome. Ele é o único digno de adoração. ESTE é o Evangelho de Jesus.

Parem de macular a glória de Deus com desejos mesquinhos e baixos. Deus não é o cara lá de cima que vai te dar tudo o que você quiser. Ele é Deus e não você.

Aproveito para deixar um vídeo onde o Evangelho é pregado, sem subterfúgios.

Dicas úteis para ouvir a Palavra de Deus

Eu gosto de ouvir a pregação da Palavra de Deus, prazer que têm se tornado raro. Infelizmente, o que muitas vezes somos obrigados a engolir como se fosse da parte de Deus, é de uma falta de compreensão das Escrituras que causa pena, dó e asco.

Claro que existem homens de Deus que não estão muito preocupados com as modinhas evangélicas. E dou graças a Deus por eles existirem. Na verdade, a razão deste post é que tenho a felicidade de poder compartilhar um trecho de uma mensagem do Pr. John Piper, que não canso de ouvir (não sei quantas vezes já escutei-a).

Sei que é difícil para saber se àquilo que ouvimos tem boa procedência. Então, aproveito para dar uma dicas úteis de como se prevenir das bobagens teológicas, e dos cabras mal intencionados que querem tão somente explorar os incautos:

  1. Corra longe de quem começa a pregação com as animações típicas de auditório: “Olhe pro seu irmão e diga…”;
  2. Esqueça totalmente qualquer coisa que venha após as afirmações “Eu decreto”, “eu exijo”, e similares;
  3. Não receba a palavra de quem grita “RECEEEBBBAAAA”;
  4. Desconsidere as mensagem em que ouvimos mais sobre Satanás do que sobre Jesus, sua Graça, sua morte e ressurreição redentoras;
  5. Se o pregador for guarda de trânsito celestial, e começar “Põe um anjo aqui, outro acolá”, pode ficar desconfiado que lá vem bobagem altamente herética;
  6. Como disse o Pr. Ciro Zibordi “contentemo-nos com o Jesus bíblico
  7. Conte com o Espírito de Deus – Ele vai te mostrar o que não procede do Pai.

E que Deus nos dê uma mentalidade tal a qual esteve em Cristo. Fiquem com Deus.

A Voz, os Pés, e o Caminho

Sabe, eu queria ter todas as respostas. Queria que o meu caminho fosse plano e reto, pontilhado pelas certezas absolutas. O mapa certo, o caminho certo, o partir e chegar nos dias certos.
Eu queria a doce ignorância de não me preocupar com coisas que nunca vou entender. Passear pelos temas difíceis, crendo que tudo se resume ao dois-mais-dois-igual-a-quatro.

Mas não sou assim.Convivo com as dúvidas e incertezas. Meu caminho é estreito, com pedras e tocos que ferem os meus passos e enterram mais fundo o espinho no meu pé. Arrasto-me pelos valados, com o peso do meu pecado arqueando as minhas costas, tal o Cristão de Bunyan. Peregrino confuso, tropeço e levanto, procuro os sinais de que estou na direção certa.

Torna-se mais difícil o caminhar por conta dos falsos mestres, que distorcem a verdade que deveria ser a lâmpada para os pés. Cegos guiando cegos, pobres, miseráveis e nus. Já lhes foi sugerido que comprassem ungüento para seus olhos, mas ver é uma experiência pouco agradável. A luz mostra o que tentamos tolamente esconder.

Sabe, eu queria ter pernas mais fortes. Quando olho para frente, para o destino, fico amedrontado com a distância. Estou muito, muito longe. Por isso, tento esquecer o chegar, e aproveitar o caminho. Os espinhos, as vezes, anunciam a existência das rosas. A dor de confrontar a minha natureza anuncia que continuo no rumo.

Os passos cadenciados, o desejo de alcançar, o próximo passo. O heroísmo é a resistência por só mais um minuto. Só mais um minuto.

No meio confuso dos meus passos trôpegos, no meu caminho estreito, nas feridas que se fecham e abrem novamente, tem uma voz que me acalma e me chama. Sabe aquela voz que você conhece antes mesmo de tê-la ouvido pela primeira vez? Pois é, essa mesmo. Ajusto-me a sua direção, mesmo com sua palavra dura, por que somente ele tem as palavras de vida eterna.

Crenças

Já me perguntaram várias vezes no que creio. Sempre gaguejo na resposta, mas vamos lá:

Creio em Deus profundamente, através da sua revelação completa em Cristo Jesus. Quando olha para Cristo, vejo o Pai, que em seu infinito amor e misericórdia, derrama sua Graça em (até então) des-graçados e (sempre) pecadores, entre os quais me encontro.

Sei que sou amado do Senhor. Sei também o quanto sou indigno disso. Mas quando o Pai me olha Ele não vê a minha iniquidade, Ele vê a Cruz, eternamente coberta com o sangue do Cordeiro imolado antes da fundação do mundo, na qual a multidão dos meus pecados está cravada.

A meu ver, a teologia (que tanto amo) sempre terá mais perguntas que respostas finais. Os que se contentam com respostas decoradas discordarão de mim. Mas Deus sempre será maior que o nosso entendimento. Por isso, não opino sobre quem vai ou não ser salvo, sobre detalhes escatológicos, e sobre um monte de outras coisas. No fim, basta confiar Naquele que deu sua vida por nós, pecadores. Tendo Deus já provado assim o Seu amor, o que temeremos?

Creio na ação, atuação e poder do Santo Espírito. Mas tenho horror a modismos neopentecostais. Irrita-me ver a Glória de Deus transformada em aberrações como “Sapato de Fogo”, gritarias confusas e estridentes, misticismo supersticioso, “Unção do Riso”, tocar Shofar para pseudos atos proféticos. Lamento a falta de exposição clara e simples das Escrituras em pregações puramente emocionais e motivacionais. Lamento também a falta de senso crítico de quem “dá IBOPE” para este tipo de pregações e a falta de temor a Deus e conhecimento bíblico deste tipo de pregadores.

Creio nas Escrituras como revelação de Deus, mas a interpretação dela muitas vezes é questionável. A Bíblia sofre violência diária, pois mutilam e distorcem seu texto para apoiar aquilo que querem dizer. Trocaram, há muito tempo, a “exegese” pela “eixegese”. Devemos, pois, ler a Bíblia diretamente, sem intermediários. Depois, nos aprofundarmos em seu estudo, saindo da trincheira do saber pré-concebido. Uma vez um professor meu da faculdade de Teologia me disse que o “aluno de seminário já entra em sala achando que sabe tudo, o que dificulta o aprendizado”. Penso que ele está certo, mas acrescento que isso não está restrito a alunos de seminário teológico.

Creio no Amor, como valor imensurável e essência Daquele que É. O amor deveria permear nossa realidade cotidiana. Preciso amar para ver o outro, me identificar com suas dores, compartilhar as alegrias. Preciso amar para me importar de verdade com os que estão a minha volta, e romper a barreira do egoísmo nato. Creio que sem isso tudo o que fazemos para Deus é nada.

Para terminar (tem um monte de outras coisas que creio, mas este post este ficando muito grande), creio que este amor vem de Deus, está sobre toda a humanidade, tornando o ar respirável. E que basta crer para vivenciar o este fato.

Orei


Orei. naquele instante permiti que meu espírito se abrisse novamente. As dúvidas, que sempre carrego, levei-as comigo. Minha fé destituída de dogmas, de verdades absolutas, resume-se em confiar numa pessoa – Cristo.

Portanto, ajoelharam-se ao meu lado o medo, a angústia, a incerteza. A percepção de quanto sou pecador me deixa tímido. Não sei o que dizer ao meu Senhor. Calo-me. Descanso na Sua presença.

Há muito tempo rejeitei a eloquência das orações pré-formuladas. Não tem sentido para mim a tentativa de convencer a quem me conhece tão profundamente. Deus não é platéia de um auditório lotado. Recolho-me, fecho a porta do quarto.

Na escuridão do quarto fechado, no silêncio que precede a tempestade, deságuo minha alma como palavras. Uma a uma elas saem de mim, gaguejadas, trôpegas como eu mesmo.

O Meu lamento ecoa pelo cosmo, chega até Ele. Não, chega antes de ecoar, devido sua proximidade. Sei que estará comigo, sempre. O seu Espírito habita no casebre simples, de barro prensado. Habita em mim.

Meus joelhos doem, mas fui aliviado da sobrecarga. Levanto. Ponho o pé (que continua com espinho) de volta no caminho. E continuo caminhando.

Pouco mais que nada

Não tenho vocação para super homem. E ando cansado de velhos chavões, de uma visão distorcida sobre o Cristianismo. Por isso queria dividir com outros a maneira como o vejo. Sei que é só a visão de uma pessoa, que talvez esteja longe de acertar. Mas não tenho pretensões quanto a isso. Apenas cansei da máscara.

Cristo se revela a mim quando leio os evangelhos, mato-me fariseu, e reconheço-me publicano. Tive que lutar arduamente contra a minha tendência de seguir o legalismo religioso que infestava o cenário da vinda de Jesus, e persiste até hoje. Tive que reconhecer que não podemos nos levantar sozinhos. Paralíticos na beira do tanque de Betesda, ou descendo pelo telhado da casa em que Cristo está, somos totalmente dependentes da Graça de Deus.

Cristo se revela a mim quando toca no leproso, e sinto que este toque limpa a minha pele, a minha auto-comiseração, me limpa daqueles momentos em que sentimos a rejeição mutilar a alma. Cristo se revela a mim pela profunda compaixão que ele é capaz de sentir por nós.
Cristo se revela a mim quando sou pobre de espírito. Sei que não tenho em mim nada de valor, se comparado a Ele. O que poderíamos oferecer-lhe que já não seja dele? Quando olho para cima, e vejo a sua glória, poder, amor, e em seguida olho para dentro de mim, posso sentir um breve vislumbre do Senhor. É essa desproporção que me encanta. De um lado, tudo, do outro, pouco mais que nada.

A Peça

Gosto da perspectiva do Eterno. Daquilo que dá sentido ao que não tem sentido em si. De saber que o Tempo, o bom e velho tempo, um dia há de rasgar-se ao meio e revelar o que sempre foi, e sempre será. Perceberei, então, que muitas das minhas questiúnculas foram perda de tempo. Perceberei, então que me apeguei a detalhes, que engoli o boi e engasguei com o mosquito. Os de antigamente estavam certos.

Gosto da perspectiva do Eterno. Sinto-me bem em ser apenas este lapso no tempo, com início-meio-fim tão próximos que se confundem os limites. De saber que o mundo não gira em torno de mim (será?). E no Eterno conhecerei a minha alma, fugidia de mim, fora do meu alcance, sempre. No Eterno os sonhos serão refeitos, poderei senti-la como não sinto agora. Caiu a máscara, fecharam-se as cortinas e o Autor anda no palco. Não serei mais ator, serei eu, finalmente eu, eu e a minha alma, talvez juntos pela primeira vez.

Amo a idéia de Eterno. Do que é, e não pode deixar de ser.

Quem és tu, minha alma?
Fora de mim, dos limites do meu corpo.

Quem és tu, minha alma?
Que pulsa em mim,
Aponta norte,
Movimenta-me sempre.
Biocombustível não patenteado.

Tão inteiramente ligada a mim,
Tão distante.
Somos um,
Quero que sejamos um.
Mas apenas quero.

Quem somos, minha alma?
Depende do dia a resposta.
Todavia, toda via me leva a mim.
A peça já teve 28 atos.
E ainda falta muito para acabar.

(reflexões aos 28 anos, sobre eles.)