
Recentemente li uma matéria em um canal de notícias evangélicas sobre um jornalista paulistano de 33 anos, que lançou um livro, no qual ele defende o ateísmo. Até aí, nenhuma novidade. O que me chamou a atenção é o fato dele ter sido um “menino-pastor”, simulacro de pregador, desde muito cedo.
O que levaria um menino crente a fazer o caminho longo até o ateísmo militante?
Confesso que fiquei triste. Ainda hoje vemos inúmeros casos de “crianças-pastoras”, no Brasil e em outros países. Não pretendo citar nome das crianças, mesmo com uma vontade enorme de incluir vídeos com elas. Não o farei por respeito a elas, por saber que as crianças não têm responsabilidade sobre o papel que estão sendo levadas a desempenhar. Mas não pretendo poupar críticas aos responsáveis – sejam pais, pastores, ou quem forem.
Na verdade, penso que o risco que corremos não é de levantar uma nova geração de pregadores e cantores(como afirma o chefe dos gideoszinhos), e sim de construir uma geração de pessoas sem temor a Deus, profundidade teológica, cínicos, impermeabilizados ao Santo Espírito. Isso sendo otimista. O caso que cito acima é um exemplo de para onde o modelo evangélico retetético está empurrando a igreja.
Deixe-me tentar explicar como percebo que isso funciona, suas causas e possíveis conseqüências.
01 – Banalização da Pregação da Palavra de Deus:
Eu me pergunto o que esse povo entende por pregação da Palavra de Deus??? Como uma criança pode ensinar através da exposição das Escrituras algo que está muito além da sua condição natural de criança? Não atentam para a admoestação de Cristo, nos ensinando que se um cego guiar outro, ambos cairão na cova?
Na realidade, a única coisa que vi nessas pregações mirins foi a mera repetição de frases de efeito gospel, desprovidas de real significado. Se eu ensinar versículos a um papagaio, isso não fará dele um pregador do evangelho. Se eu ensinar uma criança imitar um adulto, isso não fará dele um adulto. Uma criança imitar um obreiro não fará dela nem um obreiro, que dirá um obreiro aprovado. Leiam I Timóteo 3, e vejam o padrão que Deus estabelece para os trabalhadores da Seara.
S eu pregar algo que não vivencio, algo que não desceu do Céu através da oração, estudo e ação do Santo Espírito, eu sou um hipócrita. Se eu falar apenas aquilo que decorei mas não tem fundamento na minha alma, serei um falso, um mentiroso. Estaria interpretando um papel.
Você realmente acha que estas crianças SABEM alguma coisa sobre o que estão falando? E se você ensinar para as crianças de Deus que o ministério se resume a fingir ser algo que ela não é, o quão cínica ela poderá se tornar quando crescer?
Uma coisa é certa: se você faz isso com as crianças amadas de Jesus, melhor seria que você amarrasse uma pedra de moinho no próprio pescoço e se jogasse no mar. (Mt 18.6)
02 – Banalização do o Poder do Espírito Santo
O padrão de pregadores que normalmente essas crianças imitam é o “padrão reteté”. Pessoalmente não gosto nem da palavra. Reteté é via de regra, uma ação exagerada, despropositada, cheio de apelos ao emocionalismo vazio e à carnalidade humana. Não consigo sentir o jeito, poder, beleza do Santo Espírito. Mais um teatrinho gospel. Por mais que admita que o Vento sopra onde quer, não vi ainda O Vento agindo desta forma.
Tem pessoas que acham que sou pouco pentecostal por me posicionar contra o reteté. È justamente o contrário. Por ser profundamente pentecostal, por crer e amar a ação livre e soberana de Deus, por sentir a presença do Consolador enquanto escrevo este post, é que não posso aceitar que qualquer fogo estranho seja posto no altar de Deus. Eu amo o verdadeiro pentecostes, por isso repudio aqueles que fazem do meu amor um circo dos horrores.
O ponto é que ao incorporar os trejeitos dos cabras do reteté as pregações infantis, com todo o alarido e sem nenhuma ação verdadeiramente Espiritual, ensina-se aos pequenos que o mover do Espírito é só isso. Mas o agir de Deus é muito, muito, muito mais que isso. Gritar “Receba” não é o suficiente. Profetizar sem ser profeta não é suficiente. Jogar paletó, girar, pular, sapatear, nada disso é suficiente. Só a Graça é suficiente para nós. Ela nos basta.
03 – Destruição da infância
Por fim, tem um aspecto não teológico, mas prático. Crianças devem ser tão somente crianças. A beleza da infância está nela própria. Ao querer se forjar pequenos adultos “na marra”, cria-se algo estranho a constituição psicológica deles. Um ser híbrido, nem criança nem adulto, e como todo ser híbrido, estéril. Será uma criança infeliz e um adulto sem a preparação fundamental de ter passado por uma infância sadia.
Paulo diz que quando era menino falava como menino e agia como menino. Este é o padrão correto. Não estaria escrevendo um post tão longo se isso fosse respeitado. Adoraria ver uma criança falando de Jesus com a singeleza inerente à infância. Com a inocência de que apenas conta algo sobre o seu amigo. Que conhece o amor do Pai. Simples assim.
Isso glorificaria a Deus. Quando adulto, no tempo certo, do modo certo, poderia vir a ser um homem usado por Deus, pois seria um homem, e teria deixado as coisas de menino.