Conversa rasa com Pedro Bial

O Pedro Bial resolve tratar do assunto comunicação e fé no seu programa de TV – Conversa com Pedro Bial – em 09/05/17. Para isso, escolhe alguns cristãos que tem algum tipo de expressão na internet: Priscilla Alcântara, cantora e vlogueira; Vini Rodrigues, criador do personagem pr. Jacinto Manto; e Ton Carfi, cantor.

Demorei uns 10 dias para assistir a entrevista. Um misto de falta de interesse com pouco tempo e mais uma pitada de falta de interesse. Acabei vendo-a por conta da repercussão.

Confesso que conheço muito pouco o trabalho dos entrevistados. Sobre a Priscila, sei que distribuía Playstation e Jogo da Vida (o que invariavelmente causava desgosto no ganhador). Sei que canta, mas não a ouço. Sei que tem o vlog, mas não assisto. Tranquilo, não sou o público alvo dela.

Sobre o Ton Carfi, também não conheço o trabalho, me lembro apenas de uma música dele.

Conheço um pouco mais o trabalho do Vini Rodrigues. As brincadeiras que ele faz com o universo evangélico pentecostal e neopentecostal me traz uma certa familiaridade, por eu estar inserido no contexto. Sei que tem críticas sobre isto, mas qualquer pessoa familiarizada com igrejas evangélicas sabe que é comum. Nas rodas de bate papo cristãs sempre tem histórias, anedotas e brincadeiras sobre o nosso jeito, linguajar e costumes. Basicamente o que o mesmo fez foi traçar uma caricatura disto, com as fortes cores do “retété”.

Faço este preâmbulo apenas para deixar claro que não pretendo comentar nada além da entrevista em si. E a entrevista em si foi “só a misericórdia, quérido”.

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O problema é a visão de evangelho absolutamente rasa. Quando perguntados sobre o significado de expressão correntes no meio pentecostal, foi um show de despreparo. A resposta era outro jargão, igualmente desprovido de significado.
O que é o manto? É o entrar no mistério. O que é entrar no mistério? É ser canela de fogo. O que é ser canela de fogo? É ser cheio do óleo. O que é ser cheio do óleo? É o manto. Assim é realmente difícil para sermos levado a sério.

Não conseguiram também explicar o falar em línguas estranhas. Não conseguiram responder a diferença entre os anseios de um jovem cristão e um jovem não cristão. O que resolveu o problema de auto estima não é a dignidade inerente da imago Dei, restaurada em nós pela obra de Cristo na cruz. Foi a black music.

Estejam sempre preparados, diz-nos o apóstolo Pedro*, para responder com mansidão em temor a qualquer que pedir a razão da fé de vocês. É, apóstolo Pedro, foi mal.

Às vezes me dá a impressão que o desejo é só ser o “diferentão”. Tanto que quando o assunto se tornou mais sério, com a participação do prof. Ricardo Mariano, apresentado como ateu,  e que iria analisar o fenômeno evangélico, silêncio sepulcral dos convidados.

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Não, professor Mariano, os convidados e suas falas abobalhadas não expressam a realidade cristã evangélica. Não, professor Mariano, as ovelhas não têm dificuldades em serem apascentadas, o que você chama de “controle pastoral”. Prezado professor Mariano, sinto lhe informar que o senhor não entende absolutamente nada sobre igreja cristã e suas vivências. Lamento que os irmãos que estavam aí não tiveram condições de te ensinar algo sobre a beleza da noiva do Senhor, e sobre o que é ser família de Deus.

O que ficou cristalino neste programa é que de fato temos um problema sério no movimento evangélico brasileiro. Fica fácil perceber por que os 60 milhões de evangélicos não causaram um impacto social como deveria. A justiça** não correrá como rios em nossas ruas enquanto a nossa visão de evangelho for paupérrima. Culpa de nós, pastores, que não honramos nossos púlpitos com a pregação clara e pura do evangelho. Esse moralismo capenga transvestido de boas novas não tem poder para transformação do homem.

” Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” Romanos 1.16

* 1 Pe. 3.15
** Amós 5.24

Gostei de uma música da Damares

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Eu ouvi uma música da Damares e gostei.  E por incrível que pareça, a sentença anterior não é piada.

Normalmente tenho um gosto muito específico quanto a músicas cristãs. Eu espero que elas louvem a Deus, a Cristo e Sua Obra. Espero que elas me ensinem sobre a Palavra de Deus e sobre a esperança dos cristãos. Quero que a minha sensibilidade seja tocada pela beleza da poesia, e que as melodias enlevem a minha alma.

Por isso tenho uma profunda dificuldade com a maioria absoluta das composições evangélicas modernas. São pobres quanto a melodia, as letras paupérrimas. Não sei mais por onde anda a poesia. Tratam apenas das necessidades mais egocêntricas e revanchistas que um indivíduo pode ter.

E a Damares já foi duramente criticada por mim neste blog, quando tracei um paralelo entre “Beijinho no Ombro”, de Valeska Popozuda com “Sabor de Mel”  – Beijinho no Ombro tem Sabor de Mel.

Por isso me surpreendi com a Damares, em sua participação no programa “Esquenta”, comandado por Regina Casé.  Comecei a ver já com o coração fechado, esperando sentir #vergonhaAlheia , pois as mais recentes participações de evangélicos em programas da TV tem sido lamentáveis. Thalles no Jô, Aline Barros e Sarah Sheeva na Gabi são alguns exemplos do que me refiro.

Quando a Casé disse o nome da música tremi mais um pouquinho. “Maior Troféu “.  Pensei comigo: “Lascou tudo. Lá vem mais triunfalismo”.

Mas quando a Damares começou a cantar, meu coração se abriu. Não que a música seja um espetáculo. E é certo que o subtema “vitória” não abandona a letra. Mas aqui tem uma mudança fundamental: As vitórias e bençãos que Deus nos concede estão subordinadas ao principal – a Salvação e comunhão com Cristo.

“O maior troféu é no livro da vida
Saber que o meu nome está escrito lá
E quando os portais da glória se abrirem
Ter a certeza que Deus irá me chamar
O maior troféu é saber que um dia
No coral celeste eu irei cantar
Na eternidade será só o começo
Quando o meu mestre eu abraçar”

Concordo com a Damares. A mim basta estar com o meu nome escrito no Livro da Vida. Isto, e somente isto, empresta significado para a minha vida. As demais coisas são secundárias e/ou decorrentes disto.  É o maior troféu, e o único que realmente importa.

Concordo com a Damares. A ideia de um dia ser recebido por Cristo e abraçá-Lo é que nos consola nas dificuldades. Sei que o meu Senhor sempre nos acompanha de perto, que está vendo cada passo da nossa caminhada. E naquele dia, Ele enxugará dos nossos olhos toda lágrima, terá remido toda a dor.  ” Por que a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” – 2 Coríntios 4:17.

Que Deus abençoe a ir. Damares, e direcione sua carreira para dê um basta nas canções antropocêntricas e ela sempre cante canções que louvem a Deus.

Abaixo, o link do vídeo que me referi:

Diga-me com quem andas…

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“O que anda com os sábios ficará sábio, mas o companheiro dos tolos será destruído”. Pv. 13.20

“Diga-me com quem andas e eu te direi que és”. As vezes a sabedoria popular é sábia.  Este adágio, repetido pelos nossos pais e avós, sempre teve o intuito de nos alertar quanto ao perigo de nos identificarmos com determinados grupos. E, de fato, temos a tendência de nos aproximarmos e andarmos mais com pessoas /grupos que temos afinidades. E essa tendência é facilmente percebida na “tribalização” social, com grupos rotulados e definidos: emos, funkeiros, surfistas, skatistas, pagodeiros, nerds, etc., devidamente agrupados em torno dos seus interesses comuns.

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Este fenômeno social tem seu reflexo nos modelos de igreja, infelizmente. Também temos “tribos” devidamente agrupadas em igrejas sob medida: dos surfistas, dos roqueiros/tatuados,  dos que são rígidos em usos e costumes e dos liberais em usos e costumes. No supermercado da fé, escolhe-se o tipo de igreja que combina com você.

Enfatizo que não estou tratando ainda de diferenças doutrinárias, apenas constatando um fato evidente. Porém, dentro do aspecto social, temos que perceber que a “tribalização” de modelo de igreja está na contramão do próprio sentido de ser igreja, composta de pessoas de todas as etnias, classes sociais, níveis culturais, gêneros, e unidos em um só corpo. “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus“. Galátas 3:28

Mas o problema mesmo é quando vemos o cenário doutrinário. Ele também é diversificado, com grupos que se aproximam por afinidades teológicas/doutrinárias. Neo-pentecostais, pentecostais históricos, tradicionais, e por aí vai. Este caso difere do anterior totalmente, pois não se trata de gosto pessoal, e sim de convicção sobre a Verdade. Existe um escopo confessional, um modo de crer.

E se temos duas interpretações diferentes e eu creio naquela que julgo ser verdadeira, necessariamente julgo que a outra interpretação está errada.  E isto não é arrogância, é mera coerência.

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Essas reflexões nasceram de um susto. Ao ver uma postagem no Facebook, tremi. Percebi que os limites doutrinários/confessionais dentro do pentecostalismo estão ruindo, e nada de bom pode vir disto.  Vi a divulgação de um evento promovido por Agenor Duque, perfeito representante do pior do universo gospel. Duque recentemente foi até assunto de  uma matéria vexatória na Época.

No mesmo balaio de gato estarão Benny Hinn, e Mike Murdock, e esta informação deveria ser suficiente para qualquer cristão sério fugir para longe.

Diga-me com quem andas

O mesmo evento conta com nomes de pastores assembleianos conhecidos, como pr. Marco Feliciano,  pr. Abílio Santana, pr. Carvalho Jr. Parece-me que não se dão conta que este tipo de associação valida um dos ministérios mais heréticos e vergonhosos do Brasil.  Não que estes pastores que citei sejam exemplo de ortodoxia, mas fazem parte da Assembleia de Deus e ao fazerem isso associam-na com este verdadeiro horror.  Sem contar que se auto-difamam.

Assim destrói-se a diferença entre pentecostalismo clássico, nascido do trabalho de Daniel Berg e Gunnar Vingren, e o neo pentecostalismo, nascido da confissão positiva de Kenneth Hagin e acrescida de sincretismos religioso.  Vira tudo uma coisa só.

O mais grave é pelo fato simples que o neo pentecostalismo brasileiro nem pode mais ser considerado cristão! É um movimento que deve ser rechaçado, pois causa vergonha ao Evangelho e desonra a Pessoa e Obra de Cristo. Não deve ser tolerado, que dirá apoiado e validado.

“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?
E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?
E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” 2 Coríntios 6:14-16

Por isso é tão difícil hoje ser um pentecostal clássico.  A barreira entre o agir real do Espírito Santo e as palhaçadas gospel está sendo bombardeada por dentro e por fora da AD.

Internamente somos atacados por “reteté”, pregações emocionalistas “gideônicas”, pantominas de manifestações espirituais. Externamente somos alvejados pelo misticismo, superstições, sincretismos, incorporações de elementos judaizantes, teologia da prosperidade.  Como se não bastasse, agora tentam remover diferença entre os tipos de pentecostais.

Resta-me orar.

Oro por um pentecostalismo com ações reais e livres do Santo espírito, por pregações da Palavra de Deus e do evangelho sem subterfúgios.

Oro para que os pastores da AD não se deixem levar por este engano. Que a AD se levante como referencial de igreja pentecostal séria, que não tem parte com este movimento espúrio.

Oro para que um genuíno avivamento venha do Senhor , e leve-nos a todos à um profundo quebrantamento e arrependimento pelo que temos feito com o evangelho.

 

Sobre a questão do aborto – Resposta prof Márcia Tiburi

Feto com 12 semanas

Feto com 12 semanas

Em uma sessão do CDH – Comissão dos Direitos Humanos – realizado em 06 de agosto, houve uma fala da professora Márcia Tiburi sobre a questão do aborto.  O que me chamou a atenção foi o fato da referida professora ser da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e defender a legalização do aborto – posição que normalmente não é endossada pelos cristãos, nem católicos, nem reformados.  O único que já vi se posicionar a favor do aborto é o sr. Edir Macedo, mas o mesmo para ser categorizado como cristão tá é difícil. A UPM já se posicionou em nota afirmando que é totalmente contra à legalização do aborto, porém a referida professora fez questão de vincular o nome da Mackenzie.

Pois bem, o vídeo disponibilizado pela Tv Senado, tem 13 minutos, e raramente se poderia tratar desde assunto tão levianamente.  Para dar ampla voz ao debate, vou colocar o link e após analisar os argumentos apresentados. Os argumentos da professora Márcia estarão em itálico, são a síntese, não a anotação ipsi litteris.  No final, apresentarei a conclusão.

“Há fatores político-econômicos em jogo com os quais riscamos com o giz da demagogia um círculo cínico em torno do problema do aborto”.

A tentativa da sra. Márcia, que veremos em toda sua fala, é desviar o foco objetivo do problema do aborto.  Vou tratar da questão do “círculo cínico”  mais abaixo, porém quero logo ressaltar que quando se trata do tema aborto de modo específico, fica difícil de apresentar defesa à legalização. De modo específico: trata-se de duas pessoas, a gestante e o bebê, unidas em um vínculo de dependência unilateral – o bebê depende da gestante para sua sobrevivência, e a gestante não depende do bebê.

E a questão fundamental é: é lícito para a mãe interromper este vínculo?  Em que casos seria? Por que o bebê só pode ser considerado gente depois do parto?

Podemos até, em segunda instância analisar se de fato existem fatores político-econômicos, porém apenas após de resolver o que é fundamental. E o fundamental aqui é que tratarmos sobre duas pessoas, igualmente vivas, e como igual direito de permanecerem assim.

“Julgamentos morais cruéis contra mulheres transformam o aborto em metáfora do mal”

Na realidade, o aborto não é uma metáfora do mal. É um mal.  Um  mal terrível para todos os envolvidos.  Conheci algumas pessoas que em um momento de desespero se submeteram ao aborto, e que carregam uma dor profunda no coração.  Não é um julgamento moral, é uma violência contra a mulher e contra o bebê, principalmente  contra este, pois acarreta a sua morte.  Não podemos cair no erro de transformar em um conceito abstrato um mal concreto.

Não penso que as mulheres que abortaram sejam pessoas necessariamente vis. Penso que no geral são mulheres em momento de desespero, que cometem um erro terrível. Mas esse erro terrível é impulsionado pelo discurso pró-aborto, pois abre a possibilidade da normatização teórica de um fato real, e na esfera da realidade não é vivenciado sem um profundo sofrimento.

“Máquina destrutiva do lugar das mulheres, alteridade, autonomia sobre suas vidas e corpos, uma máquina que funciona contra o desejo e as necessidades das mulheres quando se trata de gestação, maternidade, saúde emocional, física e social”.

Nenhuma destas questões estão em pauta na discussão sobre a legalização do aborto. O papel social da mulher não está em questão. A maternidade é um escolha. A mulher tem total autonomia sobre sua vida e corpo, e a solidificação deste direito, por mais que seja necessária, não encontra na discussão sobre o aborto o fórum correto.

A discussão sobre o aborto gira em torno da vida do outro. Quando a mulher já está “preparando outra pessoa”*, não dá para simplesmente  desconsidera-la como indivíduo.  Não é uma lombriga, é uma pessoa!

Toda mulher precisa de ter suas necessidades totalmente atendidas quanto a gestação, maternidade, saúde, emocional, física e social.  Ela deve ser totalmente realizada e cônscia de sua vida, e de fato decidir como e se terá filhos.  Mas a consequência natural de todo indivíduo moralmente responsável, é ser responsável por suas decisões. Esse é o tipo ideal.

“O direito de decidir, pois de fato, já decidimos a milênios“.

Neste momento, a sra. Márcia argumenta que é uma prática milenar, tentando validar através da prática. É um argumento, na melhor das hipóteses, infantil, pois posso citar inúmeras práticas que ocorrem a milhares anos, e continuaram ocorrendo diariamente, nem que por isso se tornem aceitáveis.

A milhares de anos ocorrem estupros, violência contra a mulher, latrocínios, homicídios. Aparentemente continuarão ocorrendo.  Isso os tornaria lícitos?

 “É obrigada a optar pelo aborto em condições clandestinas, ilegais e inseguras”.

Se a gestante for OBRIGADA a optar pelo aborto, é um crime terrível.  Mas normalmente, ou melhor, a milênios, como afirma a filosofa, a decisão é da mulher. Palavra-chave: decisão.  Não seria este o direito desejado? Por que, subitamente passa de decisão para imposição de modo arbitrário?

A melhor solução para a situação de desespero é a esperança, até mesmo etimologicamente.

“Círculo Cínico da estrutura social machista, formado por um enganador e um enganado, onde uns fingem não abortar e outros falam contra o aborto”.

Aqui a sra. Márcia pressupõe que toda mulher aborta, ou abortou, e generaliza englobando toda faixa etária, classe social e credo.  Absolutamente arbitrário. Mesma fonte de pesquisas “lulistas”, a fantasia.

Ela, no seu “círculo cínico” ela desconsidera totalmente a possibilidade da mulher, “vitimada em uma estrutura machista”, não abortar, nem querer fazê-lo.  É de um reducionismo ridículo.

“Lucro moral por meio do discurso contra o aborto”.

O suposto “lucro moral” que se obtêm a partir da fala anti-abortista, também carece de sustentação fundamental. A questão é de premissas. Caso se considere que o aborto é um crime, dizer que o é não gera o tal “lucro moral” – é somente a exposição de um fato. Caso não se considere, e o mesmo seja visto como uma prática de saúde pública, assim como a vacina contra o sarampo, não gerará o tal “lucro moral”.  A definição disto é a conclusão do debate, não o início dele.

O que ela comete é a falácia da petição de princípio. Tenho que, a priori, considerar a conclusão dela como uma premissa válida. Mas a premissa válida é a já existente. Aborto é crime. E mais que uma premissa, é a legislação.  E dizer que um crime é crime é ser apenas óbvio.

As que falam que fazem, negam a estrutura cínica e são tratadas como imorais.”

As que falam que fazem saíram do campo das ideias.  Posso argumentar sobre a legitimidade de uma série de coisas, mas enquanto não houver essa legitimidade, não posso fazê-las.  Posso por exemplo (caso eu fosse marxista) argumentar contra a legitimidade da propriedade privada. Mas se eu tentasse “expropriar” algum burguês para apoiar meu argumento, a única coisa que conseguira é ser preso por roubo.

“Resta-nos o pseudo-debate … descartar a voz, a felicidade, o desejo das mulheres e por fim levar as mulheres pobres  a morte. Fácil criminalizá-las, fácil matá-las. Fácil para o Estado não se responsabilizar por esta pena de morte contra mulheres pobres.”

Aqui chegamos a um coitadismo profundo.  Essa sequência de fatos é absolutamente aleatória. O único dado que podemos afirmar nos casos de aborto, é que caso seja bem sucedido 100% dos bebês morrem. E as vezes o aborto mal sucedido deixa sequelas para o resto da vida, tanto do bebê quanto da mãe.

O percentual de mulheres que morrem ao tentar o aborto é ignorado, pelo fato óbvio do mesmo ser clandestino. Algumas morrem? Provavelmente sim. A culpa disso é do Estado? Absolutamente não.

Curioso é que o argumento para validar o aborto passa a ser o econômico. Mulheres pobres não podem ter filhos, pois não teriam condição de criá-los. Solução: A morte dos pobrezinhos. Observem para este fato: o fator pobreza, como impedimento ao direito à vida. É a morte em massa dos pobres e negros, 50% deles mulheres, que está sendo defendido pelos grupos que se dizem defender o pobre, o negro e a mulher.

Essa visão distorcida do direito e valor da vida tem ecos terríveis ao longo da história.  É o racionalismo estrito que fazia com que espartanos matassem os filhos que nascessem com qualquer defeito congênito, pois não se adequariam à guerra; que faz com que ocorra o infanticídio em comunidades indígenas brasileiras; e que gerou a limpeza étnica nazista.

Antes que distorçam o meu argumento, reitero: Não estou afirmando que mulheres que abortam são necessariamente nazistas, estou afirmando que a limpeza étnica nazista teve como condição filosófica a visão distorcida do direito e valor da vida. E que, ao se legalizar o aborto, estamos dando um passo na direção de uma “limpeza étnica/social tupiniquim”, uma vez que o alvo será o pobre e negro, sendo 50% deles, mulheres.

Falácias do discurso cínico:

Vamos analisá-los, individualmente.

a) Falácia da Ordem do Discurso:  tema se trata da legalização do aborto, e não do aborto. Falácia de cunho moralizante.

Aqui é mero desvio de foco. A própria sra. Márcia Tiburi afirma que ninguém é a favor do aborto, penso que por ela mesma perceber que o aborto é um mal em si mesmo, independente de qualquer outro juízo de valor.  Se a mesma tivesse afirmado com defensora do aborto, seria uma posição mais coerente, pois ela estaria dizendo que o problema do aborto não é um mal em si mesmo, mas apenas uma questão de saúde da mulher.

Mas, se o aborto não conseguem ser legitimado como algo bom, por que seria como legitimado algo válido? E  Se nem quem defende a legalização do aborto consegue dizer que o aborto é algo bom, por que ainda estamos nesta discussão?

A legalidade civil é precedida pela legalidade moral, sempre. Se algo é percebido do moralmente válido, a tendência é se tornar legalmente válido.  As leis nasceram desta maneira, validando o que já era moralmente aceito.

b) Falácia do Apelo à autoridade:

Não é uma argumento válido, pois não estamos nos apoiando na autoridade, e sim analisando fatos. Como protestante, minha fonte autoritativa é a Escritura, mas em momento algum estou me valendo dela para desconstruir as bobagens ditas pelas dra. Márcia.

c) Falácia do Apelo Amor aos Filhos: sentimento é subjetivo.

O sentimento por mais que seja subjetivo, sua expressão é objetiva. E através desta manifestação externa e objetiva, pode-se inferir o subjetivo. Se não pudéssemos fazer isso, não poderíamos viver de modo coerente.

Por exemplo, eu dizer que amo meu filho implica que eu objetivamente me esforçarei para ser um bom pai, que não deixarei ele sem cuidados. Se eu digo que amo o meu filho, o vejo morrendo de fome e não faço nada, o meu comportamento objetivo não está alinhado com o meu sentimento subjetivo.

d) Falácia do Apelo à Mulher Inconsequente: a mulher engravida por que fez sexo.

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

É realmente um falácia, pois é mundialmente sabido que é a cegonha que traz os bebês.  Ou era uma semente de melancia que a mamãe engoliu? Puxa, agora fiquei confuso…

Mas o que é 100% certo é que na história da humanidade NENHUMA mulher engravidou por que fez sexo.

e) Falácia do Apelo à Natureza: o que é natural é bom, e o artificial é ruim.

Não se aplica, pois vários setores que são contrários ao aborto defendem os métodos contraceptivos e o planejamento familiar.  Acho que somente a ICAR que se posiciona contra.

f) Falácia maternalista: mãe desnaturada.

Não se aplica, pois para ser mãe é necessário que haja o filho. O aborto nega a possibilidade de existência ao filho. Logo, a que aborta não pode ser entendida como mãe.

g) Falácia apelo ao valor da vida / assassinato de inocentes / vida do embrião: Desproporção, pois trata o corpo da mulher como uma vida menor que a vida do embrião, e trata a mulher como mera  hospedeira, destrata a mulher como ser de direitos.

Essa foi a pior de todas. É muito bom travar debates assim, em vez de lidar com o argumento da parte contrária, colocar a pecha de “falácia” e sair cantando vitória.  Por que argumentar que o bebê é um ser vivo, inocente e indefeso seria falácia? Não, de forma alguma, é fato científico.

Isso é uma piada de mal gosto. A piada anterior ao menos foi engraçada. Esta é uma fuga covarde do ponto central do debate.

O ônus da prova cabe aos proponentes pró-aborto. Provem que um feto de 12 semanas não é uma pessoinha. As provas abundantes são do lado pró-vida. Uma rápida “googlada” é suficiente.

h) Falácia do Não Pertencimento:  são as religiosas; arrependimento, destino, sofrimento a ser encarado, perda do reino de Deus após a morte. Se propõe universais, mas ocultam que as crenças não são universais e que o Estado brasileiro é laico.

A tentativa de enquadrar a cosmovisão cristã/ religiosa como uma falácia, com o argumento que o Estado é laico é ridícula. A laicidade do Estado é justamente o que permite que os cidadãos cristãos sejam respeitados como cidadãos, e serem atores sociais. A dificuldade das pessoas é não entender algo simples: Estado laico NÃO significa Estado Ateu. Significa que o Estado terá como premissa respeitar pluralidade de fé dos cidadãos, em suas mais variadas matizes, e todos tem direito a voz e voto. Sua representatividade será democraticamente espelhada, e os direcionamentos serão com base na melhor interesse da maioria.

Lamentavelmente para os abortistas, o Brasil é, em sua maioria esmagadora, cristão. Por que eu tenho que abrir mão do meu direito de cidadão, somente porque expresso uma fé, e esta por sinal é da maior parte dos brasileiros? Não tem o menor sentido esta proposição.

E aqui, de novo, a dra. Márcia comete a falácia de Petição de Princípio: Ela acredita que as crenças não são universais, e por isso quer usar esta conclusão como premissa. O problema é que as crenças são universais. Os princípios morais fundamentais são os mesmos em TODAS AS CULTURAS, por mais que posso haver variações em questões menores. O indivíduo assassinar a própria mãe é errado, e esta é uma crença universal. Sem a força de um valor moral universal, perde-se todo sentido ético, pois resta o que é bom pra mim, de acordo com minha subjetividade. Logo, se uma sociedade chegar a conclusão que para o seu bem precisa ampliar o “espaço vital“,  torna-se legítimo a invasão e dominação de povos menos desenvolvidos.  Sem valores e crenças universais o nazismo é moralmente válido.

Tema aborto é bio-político.

Não. É bio.  O ponto central continua sendo pura e simplesmente direito à vida.

 Afirmar o aborto como assassinato em vez de olhar para a necessidade de sua legalização como questão de saúde pública, ou de liberdade feminina é falta de respeito.

Estamos esbarrando no problema central, ignorado deliberadamente pela dra. Márcia Tiburi. É impossível não olhar a questão do aborto como assassinato, sem antes delimitar a vida do feto. A vida começa na concepção. A partir desta perspectiva, tirar a vida será matar um inocente.

Qualquer outra perspectiva, terá como implicação uma desconstrução do entendimento do que é o ser humano.  Se argumentar-se que a definição do ser humano é a partir de existência de alguns órgãos ou membros, implicaria necessariamente que pessoas com necessidades especiais seriam sub-humanos.  Ridículo. Isso sim é falta de respeito com a dignidade humana.

Angariar adeptos a causas autoritárias de modo geral no âmbito do senso comum… Interesse em ganhar votos, dízimos e o consumo em geral.

Falácia ad hominem, que consiste em atacar o indivíduo para tentar desacreditar as afirmações deste.  Citando a própria Márcia, é a tentativa de ganhar a discussão sem apresentar argumentos consistentes.

E uma falácia burra, pois na realidade, ao nos posicionarmos contra o aborto, perdemos adeptos, votos e dízimos, pois restringimos a quantidade de pessoas que poderíamos “cooptar”.  Os “discursos de ódio conservadores” que os “sacerdotes da moral vociferam” não seriam a melhor forma de agir em uma sociedade adepta do subjetivismo, relativismo, liberalismo.

Conclusão:

Não existem argumentos consistentes na fala da dra. Márcia. É somente uma cortina de fumaça para encobrir a verdadeira questão: e os bebês?

Dentro da questão principal, penso que a legislação não precisa de retoques. É direito abortar em casos de bebês anencéfalos, estupro e risco à vida da gestante. Isso resguarda plenamente o direito da mulher aos seu corpo e vida, sua alteridade.

Gostaria agora de  me dirigir de forma específica para algumas mulheres, que possam estar vivenciando esta questão de perto, na própria existência. Disse que logo no início que o tema não é abstrato, mas real e concreto.

Por isso preciso falar algo para as mulheres que pensam em fazer aborto:

Não façam. Por mais que tenhamos preocupações, válidas, com o futuro, o amanhã sempre reserva boas surpresas. Vai ser difícil, sem dúvida. Mas dificuldade é justificativa para tirar a vida de outro? Se você colocar a mão na sua barriga, e entender que é o seu bebê que está aí, você não vai cometer o aborto.

Para as mulheres que já fizeram aborto:

Eu não tenho como dimensionar o tamanho do desespero que te levou a isto. Sinto muito que tenhas passado pelo que passaste. Oro para que o Espírito de Deus possa te consolar do sofrimento. Isto não diminuiu o amor de Deus por você.  Em Cristo, sempre temos perdão, reconciliação com Deus e com nós mesmos, ao nosso alcance através do arrependimento e fé.  E, citando-O: Vá, e não peques mais**.

“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”. – 1 Jo 2.1

*trecho da música “Força Estranha”, de Caetano Veloso
** Evangelho segundo João:8.10

Primeiro ano de ministério

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Dia da consagração ao ministério, com pra. Edna, ir. Nila e pr. Teixeira

Dia 16 de agosto completarei um ano como evangelista. Passou rápido, mas ao mesmo tempo, parece que faz um século.
Tenho certeza do meu chamado, e vejo como confirmação a naturalidade que exerço a minha função. Recentemente uma amiga minha me perguntou se é difícil ser pastor. Respondi que é o que sou, é minha natureza, minha essência. Não percebo um esforço sobre humano, antes é uma rendição e entrega ao Senhor. O cansaço é principalmente por falta de tempo, o esforço é em conciliar vida profissional, familiar e a igreja.

Não quero minimizar a dificuldade do ministério.  “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” *. Pra mim, o ministério foi um encontro comigo mesmo, me sentir inteiro. Foi entender detalhes da minha trajetória, e como a Mão Dele me conduziu até este momento.

As minhas oscilações cessaram, como as tempestades sempre cessam ao ouvir a voz de Jesus. O espírito foi completamente direcionado por Ele, para a glória Dele. Não recalcitro mais contra os aguilhões. Era duro para mim.

Tenho percebido também como a proximidade desta condução do Senhor aumentou muito. São nos detalhes que mais preciso aprender, que Ele mais trabalha na minha vida. É o “intensivão”. Ele sabe que tenho que caminhar muito, e que o tempo é pouco. Logo, a marcha é acelerada. Dou glória a Cristo pelos mensageiros de Satanás, pois sei que meu Senhor os permite para fortalecer o meu domínio próprio e mansidão. Tudo coopera para o meu bem.

Mas, sobretudo, é uma vida de surpresas. Boas e ruins. “Minha vida é obra de tapeçaria, é tecida de cores alegres e vivas que fazem contrastes no meio das cores nubladas e tristes”**. Por um lado, me entristeço com a falta de percepção do evangelho de uns poucos, me compadeço com as lutas dos irmãos, mas, principalmente, me alegro por ele, pelo modo como o Senhor opera neles e por meio deles. As minhas ovelhas me surpreendem com grandeza, singeleza e simplicidade, e enchem a minha vida de beleza.

Apóstolo Paulo estava certo, o ministério é uma excelente obra. E Jesus é tão bondoso que permite que homens falhos como eu possam servi-lo desta forma, com Ele mesmo nos sustentando.

Soli Deo Gloria

*Trecho da música “dom de iludir”, de Caetano Veloso
**Trecho da música “tapeceiro”, de Stenio Marcius

Vá com carinho no que vai dizer

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Um dia desses estava ouvindo a canção “As Palavras”, de Vanessa da Mata. Gosto da doçura da Vanessa cantando esta música. Gosto da importância que ela dá as palavras, estas amigas tão queridas.

Mas hoje eu queria que esta canção fosse ouvida como um apelo aos pregadores. Essa foi uma aplicação totalmente arbitrária que fiz quando eu a ouvi. Lembrei dos momentos em que estou em um púlpito, ministrando a Palavra de Deus e do cuidado que eu tenho que ter neste momento. Lembrei que pessoas tomam decisões tocadas por algo que ouviram no culto, decisões que afetam todas as esferas da sua vida. Quando lembrei, senti o peso da responsabilidade que é se colocar no papel de despenseiro do Senhor.

Sei que as vezes “as palavras saem quase sem querer”, mas isso não pode ser admitido por nós, pregadores. Não podemos sucumbir à linguagem descuidada, inconsequente, pois um devaneio nosso pode prejudicar alguém. E isso é um peso grande demais para ser levado levianamente.

“Não me acerte
Não me cerque
Me dê absolvição”

A nossa função não é condenatória. A expressão “fulano prega o chicote” devia nos causar repulsa. Não é este o ministério da reconciliação. Não agrida as pessoas, ovelhas amadas do Senhor, sob o falso pretexto de santidade.  Não se esconda atrás do púlpito para dar recados.  Antes, leve-as ao entendimento que aos pés da Cruz existe graça suficiente para nos absolver da culpa do pecado e do poder do pecado nas nossas vidas.

Querido, as pessoas não precisam da nossa condenação, isto elas já tem. Suas consciências, famílias, sociedade, todos já as condenaram – e diga-se de passagem, normalmente com razão. De nós elas precisam conhecer a Graça de Cristo, que se fez maldito na Cruz para que fôssemos feitos família de Deus e amados do Pai. O castigo que nos traz a Paz estava sobre Ele, e pelas suas pisaduras nós somos sarados.

“Faça luz onde há involução”

Estabeleça a Cultura do Reino. Mostre, pela Palavra, que existe um caminho mais excelente, o Amor. Pregue incessantemente que este padrão caído do mundo e da sociedade corrompida não é a única opção. Que o Reino de Deus nos é chegado, e gera uma insurreição silenciosa, em cada pessoa que é transformada pelo poder do Evangelho.  Que o Espírito Santo atua poderosamente, e onde havia o pecado,  a Graça foi (e é ) mais abundantemente derramada.

“Escolha os versos para ser meu bem
E não ser meu mal
Reabilite o meu coração”

E isto, querido, passa pelas suas escolhas para o sermão. Ore e escolha os versos crendo que a PALAVRA DE DEUS é poderosa para transformar o ser humano, que não é a nossa habilidade, ou retórica, mas o Poder presente no ato da Criação – A PALAVRA DE DEUS – sendo ministrada através da Bíblia – A PALAVRA  DE DEUS-, e que devemos apenas expor aquilo que Deus mesmo diz  – A PALAVRA DE DEUS.  Somente ela pode reabilitar o nosso coração.

“As palavras fogem
Se você deixar
O impacto é grande demais
Cidades inteiras nascem a partir daí
Violentam, enlouquecem ou me fazem dormir
Adoecem, curam ou me dão limites
Vá com carinho no que vai dizer”

Meu irmão, vá e faça a obra. Vá por Jerusalém, Samaria, até os confins da terra.  Mas vá com carinho no que vai dizer.

Na Paz.

Conflito entre a Forma e a Essência no Meio Gospel

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Ouvia as músicas do Rodolfo Abrantes na época do Raimundos. Gostava da pegada roqueira, e das letras, que combinavam perfeitamente com o meu “sem-futurismo”* da época.

Tive um impacto quando da saída dele do Raimundos devido a sua conversão ao evangelho, em 2001. Achei uma atitude corajosa, deixar a banda no auge do sucesso, por questões de sinceridade e princípios.
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Gostei do trabalho do Rodox, mas depois de um tempo não me atentei mais para a vida e carreira dele. Esqueci-me.

Em paralelo a isso, vem a minha própria conversão em setembro de 2003, e o as tentativas de encontrar um todo coerente para a minha fé, sobreviver ao movimento neo-pentecostal e retetético.

Sempre observei  a facilidade que as pessoas tem para se encaixar no formato gospel, por causa da minha dificuldade em ajustar-me ao padrão estabelecido.  Quem me acompanha no blog, ou já me ouviu pregando, ou  foi (é) aluno meu sabe bem disto.

Exemplificando, é o caso do cara que era cantor de banda de forró, entra pra igreja, muda o formato e permanece sem alterações essenciais. Se a temática que estava por trás das músicas era o prazer e satisfação mundana, o mesmo padrão permanece como pano de fundo da música gospel.

Ele entra no padrão mais tosco de ser evangélico. É caricato, sem particularidades que expressem a multiforme Graça de Deus. O modelo “Glórias e Aleluias e Lambachurianderras” sem evidência de conversão que mostrem o Fruto do Espírito e o novo nascimento. A galera que trocou a roupa, mas não o coração.

Pra ser sincero não escuto música gospel. Eu louvo ao Senhor através de músicas que falem Dele, e do Seu penoso trabalho.

Pra ser sincero não entendo que adoração é levantar a mão durante a execução da música, fechar o olhos e passar sete minutos repetindo duas ou três frases.

Pra ser sincero não gosto de show gospel, e não o vejo como serviço ao Reino. É somente um negócio, mero entretenimento.

Em meio a esse cenário, de indústria cultural gospel, me surpreendi novamente com o irmão Rodolfo. O cara fora do padrão estético aceito, barbado e tatuado, e consequentemente fora do padrão de “santidade externa”, levanta-se como profeta para denunciar o mercado e a idolatria gospel.thalleco

Sem negociar a Verdade por conveniência, teve ousadia de fazer isso em um evento que ocorreu na Lagoinha. Será que o Thalles Roberto e o seu Thalleco**, ouviram a ministração? Oro pra que todos que ouviram a Palavra encarem as implicações da mesma.

http://www.youtube.com/watch?v=6ftT82r1-JQ

No meio formatado e lambido da industria gospel, o roqueiro (vale lembra que para setores evangélicos, o Rock é do “cão”) foi  quem, com a batida pesada e guitarra, me conduziu a adoração, com a letra que reconhece a fragilidade humana e a dependência de Deus e do seu Poder.

“Eu não posso me conformar
Com esse nível raso
O meu poder humano
Não tem poder pra trazer o teu reino aqui
Minha porção vem do céu
Eu tenho fome de ti, Senhor
Fome de ti, Senhor” – Nível Raso – Abrantes, Rodolfo

Entre formatos, modelos e indústrias, a essência que devemos buscar é de ser servos. O servo é aquele que com o fruto digno de arrependimento expresso na sua vida, nas suas decisões de vida, fortalece a vontade pela busca da “santidade interna”, de transformação. Não podemos mais inverter o começo pelo fim, a causa e a consequência, colocar o carro na frente dos bois.

Em dias assim fico em paz mesmo sabendo que eu talvez nunca entre dentro do esquadro, mas sou grato por não precisar. O Senhor, pela sua misericórdia, tem me permitido servi-Lo pelo amor que há em Cristo.

 

*”Sem-futuro” é uma expressão nordestina, utilizada para os cabras, que de tão sem noção e lesados, são, de fato, sem futuro.

** Thalleco é um ridículo boneco do ídolo gospel Thalles Roberto, ridiculamente vendido por ele mesmo, para crentes absolutamente ridículos comprarem.

Beijinho no Ombro tem Sabor de Mel

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Tá bom, confesso meu pecado. Eu vi o clipe da Valesca, da música “Beijinho no ombro”. Não, não vou colocar o link, pois não quero ser culpado pelo sofrimento de vocês. Como atenuante, posso dizer que fui motivado por uma matéria que dizia que o gasto com o mesmo fui na casa de um milhão de reais, e fiquei curioso com a história. Ficou um lance meio “Lady Gaga Xing Ling” .
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Confesso também que o meu primeiro pensamento quando ouvi o início da canção foi: “É música gospel?”. Sério, não foi piada. Sério mesmo.

Antes de me jogarem pedras, peço a boa vontade de pensar um pouco comigo sobre isso. Segue como citação as primeiras frases da dita canção:

“Desejo a todas inimigas vida longa
Pra que elas vejam a cada dia mais nossa vitória”

Hum…  fazendo um rápido paralelo, posso citar como tendo a mesma categoria de pensamento e intenção:

“Quem te viu passar na prova
E não te ajudou
Quando ver você na benção
Vão se arrepender
Vai estar entre a plateia
E você no palco” – Sabor de Mel, Damares

Damares

A música cantada pela Damares se tornou um ícone de como é um louvor que não louva à Deus, e sim ao homem, na minha opinião. O desejo de vingança, de esfregar na cara dos “inimigos/ quem não te ajudou” a tua vitória é um desejo em si pecaminoso.  Não combina com o Jesus da Sagradas Escrituras. Nem com o ensino Paulino.  Nem com a natureza imprecatória de algumas passagens bíblicas.

1 – Como Jesus nos ensina:

“Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;” (Mateus 5:44)  De certa forma ele também vincula a nossa possibilidade de perdão com a capacidade de perdoar, na oração do Pai Nosso (Mateus 6.22), como um indício de que reconhecemos a grandiosidade do fato de sem mérito algum termos recebido a Graça da Salvação por obra exclusiva Dele.

Neste sentido, de acordo com as duas passagens citadas, o desejo de vingança expresso neste tipo de música é totalmente contrária a nossa filiação com o Senhor. Em outras palavras, se tu sentes assim, é necessário nascer de novo. (João 3)

2- Como Paulo nos ensina:

Em Romanos 12:14-21, o apóstolo Paulo explica isso detalhadamente, mas vou tentar sintetizar. O ponto central é a Soberania de Deus. Ele é Rei. E Ele sabe de todas as coisas, e nada está fora do seu perfeito e santo desígnio. E mesmo Deus nos chama para sermos agentes da Sua Graça salvadora, logo eu devo abençoar os que me perseguem, para que sejam alcançados pela Graça e sejam transformados de Saulo para Paulo .

Tenho que entender que sou um subversivo do Reino de Deus, que combate o sistema mundano instaurando um novo padrão de relacionamento a partir de mim, e gerar a paz com os outros, fazendo eco as bem-aventuranças, pois “bem aventurados são os pacificadores”.

Tenho que entender que o juízo contra o ímpio será dado diretamente pelo único Justo Juiz, pois somente ele tem acesso a todas as informações e variáveis. Somente a sua justiça é reta. Por isso que a vingança é Dele, diz o Senhor.

E por isso não cabe a mim pedir o juízo, mas a misericórdia. O juízo já é Dele.

3 – Ensino a partir de textos imprecatórios:

Nesta hora, imagino que já deve ter alguém, possivelmente com formação neo-pentecostal, pensando em situações tipo: “E o salmo 23.5, que diz ‘preparas um mesa perante mim, na presença dos meus inimigos’, hein ? Como fica, irmão Alcir?”

Resposta a) Fica do mesmo jeito 🙂 .

Resposta b) O texto específico tem mais o sentido de que, mesmo que eu esteja cercado por inimigos, a minha comunhão/ mesa permanece e o meu cálice/ unção / presença do Santo Espírito continua a jorrar na minha vida. Trata  sobre permanecer em Cristo, o Sumo Pastor,  a despeito de qualquer adversidade. Por isso que eu posso andar pelo vale da sombra da morte sem medo algum.

Resposta c) Existem várias orações imprecatórias (ou “amaldiçoantes”) na Bíblia. A gente teria que ver um por um pra ser mais preciso, porém a ideia geral nestas passagens é que existe a consequência inevitável para os que permanecerem na iniquidade, e nos tirar da visão toddynho do evangelho de Cristo.

Sim, existe maldição na impiedade, e Cristo se fez maldito na Cruz para pagar esta mesma iniquidade.

Sim, Deus tem uma justa e perfeita ira que se derramará sobre todos os que permanecerem alheios a Cristo.

Sim, o meu coração, quanto mais ligado a beleza de Cristo, tanto mais irá irar-se e contra o pecado, o sistema corrompido pelo pecado, e contra o nosso adversário e sua obra nefasta. Mas não podemos esquecer que a nossa luta não é contra a carne, nem contra o sangue. Não é contra as pessoas.

Para finalizar, fica a pergunta:  Como pode, músicas com o sentimento totalmente mundano serem tidas como louvor?  A reprodução do sistema e sentimentos carnais  aceitos sem nenhum critério dentro do arraial?

Friso também que não tenho pessoalmente nada contra a Damares, e nem contra a Valesca. Não as conheço, e nem estou as avaliando como pessoas. Só não gosto do trabalho de ambas.  E, infelizmente para a Igreja de Cristo, existem mais similaridades do que eu gostaria.

Despeço-me com ósculo santo, no ombro.

 

P.S.: Segue link de um artigo bacana sobre orações imprecatórias. Agradeço a galera do blog Monergismo.

P.S. ²: Não quero implicar com a Damares, mas vale a pena dar uma olhada neste post do Púlpito Cristão.