Dicas úteis para ouvir a Palavra de Deus

Eu gosto de ouvir a pregação da Palavra de Deus, prazer que têm se tornado raro. Infelizmente, o que muitas vezes somos obrigados a engolir como se fosse da parte de Deus, é de uma falta de compreensão das Escrituras que causa pena, dó e asco.

Claro que existem homens de Deus que não estão muito preocupados com as modinhas evangélicas. E dou graças a Deus por eles existirem. Na verdade, a razão deste post é que tenho a felicidade de poder compartilhar um trecho de uma mensagem do Pr. John Piper, que não canso de ouvir (não sei quantas vezes já escutei-a).

Sei que é difícil para saber se àquilo que ouvimos tem boa procedência. Então, aproveito para dar uma dicas úteis de como se prevenir das bobagens teológicas, e dos cabras mal intencionados que querem tão somente explorar os incautos:

  1. Corra longe de quem começa a pregação com as animações típicas de auditório: “Olhe pro seu irmão e diga…”;
  2. Esqueça totalmente qualquer coisa que venha após as afirmações “Eu decreto”, “eu exijo”, e similares;
  3. Não receba a palavra de quem grita “RECEEEBBBAAAA”;
  4. Desconsidere as mensagem em que ouvimos mais sobre Satanás do que sobre Jesus, sua Graça, sua morte e ressurreição redentoras;
  5. Se o pregador for guarda de trânsito celestial, e começar “Põe um anjo aqui, outro acolá”, pode ficar desconfiado que lá vem bobagem altamente herética;
  6. Como disse o Pr. Ciro Zibordi “contentemo-nos com o Jesus bíblico
  7. Conte com o Espírito de Deus – Ele vai te mostrar o que não procede do Pai.

E que Deus nos dê uma mentalidade tal a qual esteve em Cristo. Fiquem com Deus.

Infância, bebês, e saudades.

Lembro da época que comecei a ouvir essa música. Da casa cheia, da minha irmã, minha querida irmãzinha que cuidou de mim de forma tão carinhosa. Meus irmãos, das brigas diárias entre nós que não diminuía o afeto (só na hora).

Lembro dos meu primos, os filhos do Tio Alberto, sempre conosco. Lembro da época em que meu gênio terrível e teimosia eram incontroláveis, e que eram proporcionais apenas à paciência de minha mãe.

Hoje, seleciono as mesmas músicas para o pequeno Afonso, filho da minha enteada, pensado também nos meus sobrinhos, que quase não os vejo.

Quero que eles, os pequenos todos, tenham uma infância ainda melhor do que a que tive. Que a música, a literatura e o afeto sejam parte do seu cotidiano. E que a beleza do sorriso banguela seja um símbolo – a vida sempre sorri para nós.

A Voz, os Pés, e o Caminho

Sabe, eu queria ter todas as respostas. Queria que o meu caminho fosse plano e reto, pontilhado pelas certezas absolutas. O mapa certo, o caminho certo, o partir e chegar nos dias certos.
Eu queria a doce ignorância de não me preocupar com coisas que nunca vou entender. Passear pelos temas difíceis, crendo que tudo se resume ao dois-mais-dois-igual-a-quatro.

Mas não sou assim.Convivo com as dúvidas e incertezas. Meu caminho é estreito, com pedras e tocos que ferem os meus passos e enterram mais fundo o espinho no meu pé. Arrasto-me pelos valados, com o peso do meu pecado arqueando as minhas costas, tal o Cristão de Bunyan. Peregrino confuso, tropeço e levanto, procuro os sinais de que estou na direção certa.

Torna-se mais difícil o caminhar por conta dos falsos mestres, que distorcem a verdade que deveria ser a lâmpada para os pés. Cegos guiando cegos, pobres, miseráveis e nus. Já lhes foi sugerido que comprassem ungüento para seus olhos, mas ver é uma experiência pouco agradável. A luz mostra o que tentamos tolamente esconder.

Sabe, eu queria ter pernas mais fortes. Quando olho para frente, para o destino, fico amedrontado com a distância. Estou muito, muito longe. Por isso, tento esquecer o chegar, e aproveitar o caminho. Os espinhos, as vezes, anunciam a existência das rosas. A dor de confrontar a minha natureza anuncia que continuo no rumo.

Os passos cadenciados, o desejo de alcançar, o próximo passo. O heroísmo é a resistência por só mais um minuto. Só mais um minuto.

No meio confuso dos meus passos trôpegos, no meu caminho estreito, nas feridas que se fecham e abrem novamente, tem uma voz que me acalma e me chama. Sabe aquela voz que você conhece antes mesmo de tê-la ouvido pela primeira vez? Pois é, essa mesmo. Ajusto-me a sua direção, mesmo com sua palavra dura, por que somente ele tem as palavras de vida eterna.

Vento de Agosto

Vento forte de Agosto
Sopra impetuoso, insistente
Levanta pipas, move nuvens
Quebra as linhas, voo descendente.

Corre rápido, dança, rodopia
Liberdade de não ter barreiras
Sou vento, sou brisa, sou o alento
Do ar lento parado na caixinha.

Vento venta, eu me invento
Ainda que por um só momento
Sou cônscio daquilo que contemplo:
Ar, força, redemoinhos, remendos.

(sobre meu 30º aniversário)

Imaginação

A mente percorre espaços,
Aqui, lá, em todo lugar.
Expando-me até chegar …
Não sei aonde.
E nem me importa chegar
Esquadrinho cada canto perdido
Todo canto cantado
Encantado pela pequena fada
Imaginação
É ela quem toca na mão dos poetas
Na voz dos tenores
Imprime rimas e louvores
Floresce os bosques e os tucumãs.
Não paro, estou só de passagem
Revejo pessoas, fatos, atos
Falhos ou não
Replay, repeat all.
Relação espaço-tempo definitivamente relativo.
O presente sempre presente
No redimensionamento da memória.
Passado passado a limpo.
Crio novos sons
Vejo a música do ocaso.
Ouço as cores do luar.
Acordes da alma que perdeu o medo de se perder.
A mente percorre espaços.
Corre livre, corrente de vento
Aqui, lá, em todo lugar.
Em todo tempo que o tempo pode achar.

Velho Almir

Velho Almir

Um homem velho envolto em fumaça
Antigo como o carvalho que verga sob o peso das lembranças
Passarinho, enquanto passarão os outros pelo dia
Pequeno e grande índio de nariz pontudo.

Irmão do tempo, quebra e distorce suas dimensões
Viveu mais que seus dias
Remarcando o tempo pelo relógio do seu pulso
Cadenciando as estrelas pelo compasso do seu mundo

Um grande homem de um metro e meio
Gigantesco, antecipa os caminhos com um olhar arguto
Raposa, índio, passarinho
Reflexo dos olhos por traz do arbusto

Mago, druida, encantado
Lenda amazônica, mito
Verdade profunda do fundo das águas
Barrento, negro, puro
Igarapé nas veias, nuvens no teto

Um pequeno gigante apaga o cigarro
Noite sempre companheira
Ao lado a escultura de baganas
Pigarreia, tosse, geme e sorri
As costas doem, comprimidas para caber no mundo
A fumaça dissipa – ele vê.

Contar os Anos

“Ensina-nos a contar os nossos anos, para que tenhamos coração sensato!” (Sl 90,12)

Preciso aprender a contar os anos. Sempre fui ruim nesse aspecto, nunca me percebendo na idade certa.

Por ser o caçula de quatro irmãos, acelerei, pulei etapas, na ânsia de me livrar do estigma de caçulinha.  Queria estar no mesmo momento de vida que meus irmãos, ser mais velho que era. Lia os mesmos livros, queria fazer o que eles faziam, media a minha vida pela deles.  E envelheci cedo.

Fui o único menino de treze anos que lia Nietzsche da redondeza. E achava que entendia. Debatia sobre política, filosofia, religião, música com os caras mais velhos, muitas vezes dominando certos assuntos melhor que eles. A consequência foi um ego cada vez mais inchado. Para mim, todos os que não eram eu, eram carentes de inteligência.

Aos dezoito, pensava que sabia tudo da vida, que era o “descolado”. Via-me adulto feito, pronto para todos os desafios que viessem.  Era o dono da razão, sempre.  Então, tomava decisões sozinho, pois só eu era o certo.

Mas o fato é que eu era ainda mais estúpido que hoje. Não enxergava um palmo na frente dos meus olhos, um avestruz com a cabeça enfiada na terra. Era inocente e não sabia. Acreditava nas pessoas, porque cria que eram boas. Mergulhava de cabeça, pois não tinha parâmetros para a dor. Não tinha descoberto que o lago, às vezes, é raso.

Como não contava os anos, não sabia que eu era um menino.   Magoei muita gente querida enquanto quebrava a cara.  Soquei facas, fazendo pose de macho, cauterizando choro que não ousava chorar.

Comecei a ser gente lá pelos vinte e quatro. Uma voz chegou aos meus ouvidos: “Não importa quão precoce você é, você não tem experiência de vida”.  Vi ruir minha prepotência, meu orgulho virou cacos. Havia lama nos meus olhos, enfim lavada pelas lágrimas que pude, finalmente, derramar.

Ainda busco contar os anos de modo certo, e ainda sou o cara de trinta anos mais velho da redondeza. Não tenho um coração sensato. Mas aprecio o passar dos anos, a serenidade que passo a passo tem chegado.E sei que no tempo certo, chego lá.

Não sou um Bom Amigo

Não sou um bom amigo, para com os meus amigos. Não os procuro, não estou presente, não me abro com facilidade. Raros são os que conseguem transpor a muralha de sorriso distante, o olhar nunca direcionado para os “causos” da vida alheia.

Ainda me surpreendo em ver como eles me aturam. Aguentar um cara cada dia mais ranzinza, irônico, impaciente, mordaz e que “se acha” não é tão fácil assim. E fica pior com o descuido com que trato nossa relação.

Não os cultivo como deveria. Meus amigos são ervas daninhas, obstinadas a crescer em brechas do cimento seco. As roseiras há muito morreram pelo meu desamor. Passo anos sem os vê-los. Sem ligar. Penso que alguns deles nem me tenham mais por amigo, por causa da frieza do meu isolamento. Não sei compartilhar sentimentos, não sei dar a atenção que eles merecem, não aprendi a difícil arte de caminhar ao lado.

Tem aqueles que me desculpo pela distância. Os quilômetros que nos separam são ditos como o motivo do meu péssimo comportamento. Mas os que estão perto sabem que isso é só uma desculpa, e que se fôssemos vizinhos também não nos veríamos tanto.

Mas, por mais estranho que possa parecer, me importo demais com eles. São eles que me conhecem, e em que confio. Não caminho ao lado porque eles andam comigo, para onde eu vou. São minha esperança na humanidade, são minhas memórias, são meu refúgio. Falo com eles sempre que fecho os olhos. Cada gesto ficou gravado em mim, como se marca o gado – profundamente, em meio à dor, sem chance de se apagado. Foi nos meus tropeços que eles existiram, e isso me basta.

Vejo suas vidas, mesmo de longe, e percebo como sou afortunado. Eles não. Eles merecem amigos melhores que eu. Não sou um bom amigo. Mas eles são.

Trilha Sonora

Tem uma FM na minha cabeça
Tocando sons antigos,
Alguns já esquecidos,
Outros sempre lembrados.

Neles viajo pelo tempo
Revejo a história.
A narrativa é em primeira pessoa.

Leva-me.
Revela-me.
Enleva-me.

Momentos têm trilha sonora.
Arrebatado em mim
Os aprecio novamente,
Como um vinho envelhecido lentamente
Com o correr suave dos anos
Acariciando o barril de carvalho.

Fecho os olhos e escuto.
Tem uns sons antigos
que reverberam na alma.
É a existência em notas.

Então, mesmo sem sentir, canto.
Já não é passado, fez-se presente.
Ocupou o seu espaço.
Permaneceu.
Eternizou-se no ciclo de viver e reviver.

Sempre lembrados, não mais esquecidos.

Crenças

Já me perguntaram várias vezes no que creio. Sempre gaguejo na resposta, mas vamos lá:

Creio em Deus profundamente, através da sua revelação completa em Cristo Jesus. Quando olha para Cristo, vejo o Pai, que em seu infinito amor e misericórdia, derrama sua Graça em (até então) des-graçados e (sempre) pecadores, entre os quais me encontro.

Sei que sou amado do Senhor. Sei também o quanto sou indigno disso. Mas quando o Pai me olha Ele não vê a minha iniquidade, Ele vê a Cruz, eternamente coberta com o sangue do Cordeiro imolado antes da fundação do mundo, na qual a multidão dos meus pecados está cravada.

A meu ver, a teologia (que tanto amo) sempre terá mais perguntas que respostas finais. Os que se contentam com respostas decoradas discordarão de mim. Mas Deus sempre será maior que o nosso entendimento. Por isso, não opino sobre quem vai ou não ser salvo, sobre detalhes escatológicos, e sobre um monte de outras coisas. No fim, basta confiar Naquele que deu sua vida por nós, pecadores. Tendo Deus já provado assim o Seu amor, o que temeremos?

Creio na ação, atuação e poder do Santo Espírito. Mas tenho horror a modismos neopentecostais. Irrita-me ver a Glória de Deus transformada em aberrações como “Sapato de Fogo”, gritarias confusas e estridentes, misticismo supersticioso, “Unção do Riso”, tocar Shofar para pseudos atos proféticos. Lamento a falta de exposição clara e simples das Escrituras em pregações puramente emocionais e motivacionais. Lamento também a falta de senso crítico de quem “dá IBOPE” para este tipo de pregações e a falta de temor a Deus e conhecimento bíblico deste tipo de pregadores.

Creio nas Escrituras como revelação de Deus, mas a interpretação dela muitas vezes é questionável. A Bíblia sofre violência diária, pois mutilam e distorcem seu texto para apoiar aquilo que querem dizer. Trocaram, há muito tempo, a “exegese” pela “eixegese”. Devemos, pois, ler a Bíblia diretamente, sem intermediários. Depois, nos aprofundarmos em seu estudo, saindo da trincheira do saber pré-concebido. Uma vez um professor meu da faculdade de Teologia me disse que o “aluno de seminário já entra em sala achando que sabe tudo, o que dificulta o aprendizado”. Penso que ele está certo, mas acrescento que isso não está restrito a alunos de seminário teológico.

Creio no Amor, como valor imensurável e essência Daquele que É. O amor deveria permear nossa realidade cotidiana. Preciso amar para ver o outro, me identificar com suas dores, compartilhar as alegrias. Preciso amar para me importar de verdade com os que estão a minha volta, e romper a barreira do egoísmo nato. Creio que sem isso tudo o que fazemos para Deus é nada.

Para terminar (tem um monte de outras coisas que creio, mas este post este ficando muito grande), creio que este amor vem de Deus, está sobre toda a humanidade, tornando o ar respirável. E que basta crer para vivenciar o este fato.