Dia 31 de março completamos 50 anos do Golpe Militar que inciou um ciclo de 21 anos de ditadura. Mas, entre discurso inflamados, viúvas da ditadura, palavras de ordem estúpidas, o que restou para nós?
Sempre que ouço comentários sobre o período, os saudosistas pintam um cenário aquém da realidade. “Queria ver no tempo dos militares, esses malandros …” e nas reticências o sentimento de ordem e paz pública, que sufoca a verdadeira ordem, aquela em que não é necessário suprimir os direitos civis, as liberdades individuais. “Paz sem voz não é paz, é medo“*.
A ideia que se quer passar é que naquele momento histórico tudo ia bem: os pobres não eram tão pobres, as escolas não eram tão ruins, os bandidos não eram tão maus. Em que se pese que existe um senso comum que o ensino em geral tem retrocedido, a definição mais exata deste discurso é o anacronismo**.
Por outro lado sempre que eu penso sobre luta contra Regime Militar, percebo a profundidade da sentença: “Ou você morre herói, ou vive o suficiente para se tornar o vilão”***. Existiu uma geração engajada, que (não estou levando em consideração o mérito da questão) acreditava que podiam fazer a diferença. Eles acreditavam em mudança política, em formas de governo que beneficiariam o povo. Porém, em sua maioria, tornaram cínicos manipuladores, usufruindo das benesses do poder, e enriquecendo ilicitamente.
Tenho nojo dos “Genoínos” e afins, que começaram na guerrilha e terminaram na quadrilha. Tenho nojo da
caricatura que se tornaram, com o punho levantado e capinha de super heróis as costas, esquecendo-se que o principal adorno do homem é a vergonha na cara, esta definitivamente sumida.
Veja bem, minha bronca não é somente com o Genoíno, é com toda a geração revolucionária da sua época****, que hoje mantém o discurso de esquerda para iludir o eleitorado, enquanto fica “em casa, guardada por Deus (sic), contando vil metal“*****. Da esquerda brasileira, nos sobrou a frase feita, a palavra de ordem, a conversa pra boi dormir, e uma teoria social sem a menor aplicação prática.
A consequência é a pior possível. Estamos em meio a uma esquerda falida, uns jovens imbecis metidos a revolucionários, tipo anonymous e black bostas, ops, black blocs, e uma direita que insiste em absorver o pior do capitalismo. A ignorância social e política chega a índices “australopitéticos”.
Enfim, o que restou do Golpe de 64 foi cinismo e desilusão. A falha em qualquer sistema político é que ele teima em resolver o problema social, mas esquece de resolver o problema do homem. O ser humano é mau, pecador, egoísta, portanto preso ao pecado e ao sistema mundano. Como pode este mesmo ser humano produzir uma sociedade justa e igualitária antes de ter sido transformado em sua estrutura básica? Ora, se eu sou mau e egoísta, o que se pode esperar da minha ação em sociedade? Óbvio que irei tomar a coisa pública para benefício privado.
Talvez você pense que estou errado neste ponto, mas basta olhar a história humana. Esta perspectiva mais ampla prova a verdade do pressuposto cristão – Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Por isso é necessário nascer de novo.
No fim, o que me restou do Golpe, e do posterior desenrolar da nossa história, é a esperança em Cristo. No homem e nos seus modelos, definitivamente, não dá.
*Trecho da canção “Minha Alma”, do Rappa
** Anacronismo é basicamente utilizar conceitos e contextos de uma determinada época em outra. Para saber mais, click AQUI.
***Frase icônica do filme Batman – o Cavaleiro das Trevas
**** Óbvio que existem exceções, e pessoas que ainda conseguem manter a integridade e o idealismo, como o meu pai, Alcir Matos. Mas são raridades.
***** Trecho adaptado da canção “Como nossos pais”, de Belchior