Um caminhante parte em direção ao nada. Não lembra o porque, nem como começou. Quando deu-se conta, caminhava, com seu pés movendo-se como que por vontade própria.
Assim ia, impulsionado pelo seu impulso de seguir sem rumo.
Passo a passo retorna também a lembrança. Nublada, ainda. Teria algum sentido o seu andar? Uma saudade comprime-lhe o peito, saudades do que ainda não é. Impacienta-se, chuta as pedras do caminho, pelo simples prazer de derramar a raiva e pelo mero prazer de arrebentar o próprio dedão. Agora é sangue, poeira, pedra e dentes trancados. Pra onde? Por que não pára? O que, afinal, ele está fazendo? Agora é vazio, impotência, calçada e sangue. Resolve se distrair no caminho, tentativa de esconder a frustração e enganar-se um pouquinho, só mais um pouquinho.
Um caminhante queria uma calçada pra sentar na beira do caminho. Abaixa-se, segura o chão, mas não consegue impedir-se de ser arrastado pelo caminho. O caminho agora é quem caminha nele. Agora é pedra, asfalto, cimento sugando-o num turbilhão de choro, dor, lamento e sangue. Ele é chão, os dedos em carne viva e não tem onde ser segurar.
Pra onde vais, caminhante da vida? Par onde vais? Até quando o caminho te atropelará?
Um caminhante é erguido pelo vento. O Sopro sussurra aquilo que ele não lembrava mais, a saudade do que não é vem acompanhada da certeza que será.
Assim ia, impulsionado pelo vento que conduz ao rumo.
Passo a passo retorna também a alegria. O caminho pode ser muito bonito, se sabe-se pra onde ele segue.