Não sou um Bom Amigo

Não sou um bom amigo, para com os meus amigos. Não os procuro, não estou presente, não me abro com facilidade. Raros são os que conseguem transpor a muralha de sorriso distante, o olhar nunca direcionado para os “causos” da vida alheia.

Ainda me surpreendo em ver como eles me aturam. Aguentar um cara cada dia mais ranzinza, irônico, impaciente, mordaz e que “se acha” não é tão fácil assim. E fica pior com o descuido com que trato nossa relação.

Não os cultivo como deveria. Meus amigos são ervas daninhas, obstinadas a crescer em brechas do cimento seco. As roseiras há muito morreram pelo meu desamor. Passo anos sem os vê-los. Sem ligar. Penso que alguns deles nem me tenham mais por amigo, por causa da frieza do meu isolamento. Não sei compartilhar sentimentos, não sei dar a atenção que eles merecem, não aprendi a difícil arte de caminhar ao lado.

Tem aqueles que me desculpo pela distância. Os quilômetros que nos separam são ditos como o motivo do meu péssimo comportamento. Mas os que estão perto sabem que isso é só uma desculpa, e que se fôssemos vizinhos também não nos veríamos tanto.

Mas, por mais estranho que possa parecer, me importo demais com eles. São eles que me conhecem, e em que confio. Não caminho ao lado porque eles andam comigo, para onde eu vou. São minha esperança na humanidade, são minhas memórias, são meu refúgio. Falo com eles sempre que fecho os olhos. Cada gesto ficou gravado em mim, como se marca o gado – profundamente, em meio à dor, sem chance de se apagado. Foi nos meus tropeços que eles existiram, e isso me basta.

Vejo suas vidas, mesmo de longe, e percebo como sou afortunado. Eles não. Eles merecem amigos melhores que eu. Não sou um bom amigo. Mas eles são.

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