“Eu, Belém F., 393 anos, drogada e prostituída”.

Ontem vi em um telejornal a inacreditável notícia que o Pará vai começar a enviar seus pacientes com câncer para o Tocantins e Piauí, por conta do total sucateamento do hospital Ofir Loyola.

Fui imediatamente tomado por uma raiva profunda. Senti-me ultrajado, envergonhado, por que o meu Estado chegou a este ponto, tendo que ser socorrido por dois dos mais pobres da Federação. E pela falta de entendimento minimamente racional que pacientes com câncer não tem tempo a perder com a maratona burocrática que terão que passar para serem transferidos.

Descaso, corrupção, incompetência, falta de políticas públicas eficazes. O governo, em todas as esferas, é visto e usado como cabide de emprego. Pessoas sem capacidade de gerir um mercadinho são colocadas em cargos de confiança por conta dos votos que podem arrebanhar. Meia dúzia de pessoas comandando o desmando paraense.

Ainda lembro-me da época em que nutria esperanças políticas. Da época em que atual governadora era tida como alternativa no cenário político. Mas desde que assumiu o mandato, só repercutem os escândalos da sua administração.

Quanto à prefeitura de Belém, não tenho nem adjetivos para expressar o que penso sobre Duciomar Costa. O “Dudu” ser prefeito é algo parecido com roteiro de filme do Zé do Caixão.

A situação da minha cidade pode ser descrita parafraseando o título de um livro: “Eu, Belém F., 393 anos, drogada e prostituída.”. Drogada, dopada, sem condições de reagir à violência que a acomete diariamente. Prostituída, usada para satisfazer o prazer daqueles que a comandam.

Não quero a “Belém F.”. Quero a Santa Maria de Belém do Grão Pará, bela, rica, efervescente, cultural; quero a minha raiz. Estou há seis anos e nove meses longe dela, só a vejo em rápidas visitas. Como todo paraense, sei do nosso bairrismo, e sei os motivos (justos) para isso. Mas hoje, me envergonho de sê-lo.

Crônicas de um Crente – Viagem ao Extraordinário Mundo Coral

(Este texto eu escrevi em Abril 2007, na época em que a Tamar Jorge era regente do Coral Maranatha. )

A necessidade me fez sair do conforto da minha terra natal, a minha Congregação, e me aventurar por mares nunca antes navegados. A ousadia era me sentir um descobridor da época das Grandes Navegações, porém dotado de uma simples jangadinha…
Quando surgiu esta viagem, parei para pensar: será que conseguiremos chegar lá? E os monstros marinhos, será que eles existem? Tudo que eu havia vivido até então não me prepararam para este desafio.
A missão era simples. Preparar uma homenagem para aniversário do pastor. Teríamos a ajuda do Coral Maranatha.
Talvez você esteja se perguntando por que então tanto drama. Se você se perguntar isto é por que definitivamente não conheces a incrível capacidade de desafinar que tenho! Poucas pessoas semitonam com tanta desenvoltura.
Há pouco mais de dois anos, eu nunca tinha cantado. Apesar de gostar muito de música, minha relação com ela sempre foi de espectador. Lembro-me de um amigo meu que sempre que me via cantando em casa vinha com a mesma gracinha: “Tu gostas de cantar? Então porque não aprende?”. Claro que era justificado pelo sofrimento que eu o causava.
Foi nesta época que surgiu o Marcas de Cristo, grupo de louvor da mocidade. Me senti à vontade, pois oitenta por cento do conjunto era tão desafinado quanto eu. Trabalho árduo para a líder e para o Espírito Santo. Se você tem dúvidas quanto a se Deus faz milagres nos dias de hoje, o Marcas de Cristo é uma prova disto.
Mesmo assim, participar de um coral ainda era uma jornada ao desconhecido. A complexidade, o idioma absolutamente único. Afinal se comunicar entre tons-notas-oitava-abaixo-oitava-acima-tempo-altura é para lingüistas profissionais. A habilidade de cantar e respirar ao mesmo tempo é algo similar a assobiar e chupar cana. Chego ao primeiro ensaio. O meu cérebro faz um “crac”, para tentar assimilar o que estava sendo ensinado. Saio com aquela sensação de “onde foi que me meti”.
Tenho que fazer um aparte sobre os nativos desta terra recém descoberta: são pessoas boníssimas. O prazer, a dedicação, a alegria, a prontidão em ajudar. E que vozes… A música tem a condição de penetrar no fundo das nossas sensações. O louvor tem a condição de elevar nosso espírito até o Espírito de Deus, estabelecendo uma comunicação de amor. Despretensiosamente, em meio ao ensaio, sentia as lágrimas descendo pelo meu rosto.
A propósito, o resultado desta expedição foi satisfatório. Mas o melhor resultado foi ter ampliado o conhecimento. Esta terra desconhecida agora é uma terra também amada. Tá certo, eu ainda sou desafinado. Mas encontrei novas formas de adorá-Lo. E agora, me achando o Pero Vaz Caminha, escrevo dizendo que esta é uma terra abençoada, que receberá de braços abertos os viajantes. “Aqui, plantando, tudo dá!”.

P.S.: Aproveito para compartilhar um vídeo do coral, para que todos possam conhecer um pouco dele.