Aldo, Ronda e os que nunca lutam

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Não existem mais imbatíveis. Na realidade, penso que eles nunca existiram, são entes exclusivos do nosso desejo  de idealizar heróis.

Porém, para os que acompanham MMA (Artes Marciais Mistas), até pouco tempo haviam atletas invencíveis. Mas eles foram, um a um, caindo. Tinham sobrado apenas Ronda Rousey e José Aldo. Tinham.

Para ser claro, não pretendo fazer um comentário sobre o MMA. O Ponto é como a nossa cultura se manifesta nestes fenômenos, e o que podemos aprender com estes episódios.

“Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia”. 1 Coríntios 10:12

Vermos os ídolos (até então) imbatíveis sendo derrotados é um oportunidade para entendermos que todos estamos sujeitos à possibilidade de derrota.  A Escritura mostra que o cristão não é imune às lutas e tentações. Não está blindado.

Pra ser bem sincero, entender que “o pecado jaz à porta” é fundamental. Vivemos na dependência do Senhor justamente por não confiarmos nas nossas próprias forças.

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes”. Efésios 6:13

Outra tendência nossa é racionalizar a derrota.  Quando a Ronda perdeu, os teóricos de plantão elaboraram diversas teorias  sobre isso: super exposição na mídia, falta o foco, participação no cinema. Alguns até argumentaram que ela foi apenas uma “invenção” do UFC, desconsiderando que ela é atleta de nível olímpico.

Mas o fato puro e simples é que o “dia mau” chega. Não precisa de razões especiais. Não precisa de grandes explicações. Ele só chega.  A Ronda perdeu, e fim.

Em João 9 está registrada a história do cego de nascença. Os discípulos queriam saber porque ele havia nascido cego, e a explicação que Cristo dá não explica nada. Ele apenas afirma que foi para que as obras de Deus se manifestassem nele. Ele só nasceu assim, e fim. Deus glorificará seu nome nisto, e pronto.

Aplicando para nossa vida, eu vejo muita gente preocupada com “porquês”, cuja resposta nunca teremos.  Não se preocupem com a resposta, se ocupem com a solução. Cair é ruim, mas é pior permanecer caído.

“Alegrai-vos com os que se alegram; e chorai com os que choram”.  Romanos 12:15

Mas o que mais me chocou foi a reação do público brasileiro com a derrota do Aldo.  Em tempos líquidos*, nossos heróis são descartáveis.
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Não me lembro de ter visto manifestações de apoio. Toda a carreira brilhante foi desconsiderada após 13 segundos. José Aldo virou motivo de chacota.

E infelizmente, este fenômeno se repete na igreja. Qual a nossa reação quando vemos um irmão caído?  As vezes presenciamos pessoas que pisam-no, ao invés de levantá-lo.

Quando um pastor cai, a reação é ainda pior. Esquecemo-nos de toda a dedicação, tempo, esforço com que ele serviu a Cristo, e rotulamos o indivíduo a partir de uma falha. Criamos um ídolo, e quando ele não nos serve mais, jogamos fora. Mas o pastor não é  super-herói, é apenas uma pessoa que ama a Cristo e por isso cuida das pessoas que Cristo ama.

A crítica sobre a luta do Aldo é a crítica de quem nunca lutou, nunca pisou num tatame. Lutadores sabem que as vezes ganhamos, as vezes não. Que o importante é crescer, desenvolver a arte, a disciplina. Lutadores sabem que o resultado só é satisfatório se acompanhado de superação.

A crítica contra o irmão caído é a crítica de quem nunca lutou contra a própria carne. Crentes sabem que as vezes ganhamos, as vezes não. Que as vezes o bem que queremos fazer, não fazemos, e o mal que não queremos, fazemos. Que o importante é crescer, é sermos transformados.  Crentes sabem que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

Quando traçamos estes paralelos, vemos que temos um longo caminho até mudarmos nosso modo de agir e reagir. Vemos que por baixo do verniz de religiosidade, ainda não saímos do formato cultural mundano.  Precisamos mais da cultura do Reino.

Temos a necessidade de sermos uma igreja organicamente viva, definida pelo amor e conhecida pela misericórdia. Uma igreja feita de pessoas.

 

*”Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar” – Zygmunt Bauman