Adeus, inocência?

Como lidar com a contante perda de confiança nas pessoas?  Essa questão tem me martelado constantemente de uns tempos pra cá.

Reconheço a minha tendência à inocência. Quero acreditar que as pessoas podem ser decentes, que é possível viver uma vida digna. Quero acreditar que vale a pena ser honesto, que vale a pena ser tentar ser justo. Quero acreditar que o “mundo é bão, Sebastião”*.

Daí a surpresa ao descobrir que as coisas não são como deveriam ser. Elas são como são, e são constantemente feias.

Hoje já entendo por que tem tanta gente amarga no mundo. As pessoas são ruins, e as vezes fazem o mal gratuitamente. E isso é assustador, por não ser raro. É difícil manter o coração funcionando direito depois de algumas punhaladas.

Quando  cultivamos determinados tipos de valores, é difícil e demorado para perceber isto. Sabe aquele tipo de gente que se emociona vendo “Homens de Honra”** pela milésima vez? Pois é.  Sou esse cara, que não sabe nada, inocente,*** e tem dificuldade de adaptação.  A forma como enxergo a vida está em desarmonia com os “fatos da vida”.

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Confio em laços de amizade. Mas  não consigo mais quantificá-los, não sei quantos destes ainda tenho.  O que vejo é que eles são facilmente desatados, e substituídos por algum tipo de utilitarismo – você só serve enquanto serve para algum fim.  A fidelidade canina das amizades eternas, sólidas e inegociáveis, não sei onde colocar.  A quem dedicá-la.

Confio em palavra empenhada. Mas não confio nas pessoas que as empenham, frequentemente.  São poucos homens de caráter que conheço. A ideia de ter caráter parece-me ter caído em desuso.

Acredito em vida pautada em ideais. Mas tenho me deparado com a mesquinhez e a ganancia sórdida. Passa-se por cima de tudo e todos, desde que se consiga o objeto do desejo.

A questão permanece: como lidar com isso?

A inocência, sempre que me deixa, me torna mais amargo, fechado e cruel.
A inocência, sempre que me deixa, me tornar mais parecido com aqueles que eu desprezo.

O que fazer? Assumir que a  minha visão é pueril e inadequada para vida adulta? Aceitar que “as coisas são assim mesmo”, e me adequar ao modus operandi?  Dizer, simplesmente, “Adeus, inocência”?dvd-homens-de-honra-robert-de-niro-cuba-gooding-jr_mlb-f-3338751391_102012

Ou insistir? Manter os valores, a honra, mesmo indo contra a correnteza?

“Droga, cozinheiro, mexa-se. Eu quero os doze passos!”****.

A tentativa de ser moral em meio à imoralidade é inocência, eu sei. Mas por enquanto não conseguiria ser de outra forma.

Digo, então, “Vai ficando, inocência. Vai ser doloroso, mas é o melhor pra gente”. Preciso ser diferente daqueles que desprezo. Apego-me à ela para preservar a minha alma.

 

 

* Citação de O Mundo é Bão, Sebastião! – Nando Reis
**Men of Honor (Homens de Honra no Brasil e em Portugal), é um filme norte-americano de 2000, dirigido por George Tillman Jr., com roteiro de Scott Marshall Smith e trilha sonora de Mark Isham. É baseado na história verídica do Sargento Carl Brashear. No elenco, Cuba Gooding Jr., Robert de Niro, Charlize Theron e Powers Boothe, entre outros. (dados Wikipédia)
*** Frase icônica de Cumpadi Washington
****Citação do filme referido acima.

Diga-me com quem andas…

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“O que anda com os sábios ficará sábio, mas o companheiro dos tolos será destruído”. Pv. 13.20

“Diga-me com quem andas e eu te direi que és”. As vezes a sabedoria popular é sábia.  Este adágio, repetido pelos nossos pais e avós, sempre teve o intuito de nos alertar quanto ao perigo de nos identificarmos com determinados grupos. E, de fato, temos a tendência de nos aproximarmos e andarmos mais com pessoas /grupos que temos afinidades. E essa tendência é facilmente percebida na “tribalização” social, com grupos rotulados e definidos: emos, funkeiros, surfistas, skatistas, pagodeiros, nerds, etc., devidamente agrupados em torno dos seus interesses comuns.

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Este fenômeno social tem seu reflexo nos modelos de igreja, infelizmente. Também temos “tribos” devidamente agrupadas em igrejas sob medida: dos surfistas, dos roqueiros/tatuados,  dos que são rígidos em usos e costumes e dos liberais em usos e costumes. No supermercado da fé, escolhe-se o tipo de igreja que combina com você.

Enfatizo que não estou tratando ainda de diferenças doutrinárias, apenas constatando um fato evidente. Porém, dentro do aspecto social, temos que perceber que a “tribalização” de modelo de igreja está na contramão do próprio sentido de ser igreja, composta de pessoas de todas as etnias, classes sociais, níveis culturais, gêneros, e unidos em um só corpo. “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus“. Galátas 3:28

Mas o problema mesmo é quando vemos o cenário doutrinário. Ele também é diversificado, com grupos que se aproximam por afinidades teológicas/doutrinárias. Neo-pentecostais, pentecostais históricos, tradicionais, e por aí vai. Este caso difere do anterior totalmente, pois não se trata de gosto pessoal, e sim de convicção sobre a Verdade. Existe um escopo confessional, um modo de crer.

E se temos duas interpretações diferentes e eu creio naquela que julgo ser verdadeira, necessariamente julgo que a outra interpretação está errada.  E isto não é arrogância, é mera coerência.

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Essas reflexões nasceram de um susto. Ao ver uma postagem no Facebook, tremi. Percebi que os limites doutrinários/confessionais dentro do pentecostalismo estão ruindo, e nada de bom pode vir disto.  Vi a divulgação de um evento promovido por Agenor Duque, perfeito representante do pior do universo gospel. Duque recentemente foi até assunto de  uma matéria vexatória na Época.

No mesmo balaio de gato estarão Benny Hinn, e Mike Murdock, e esta informação deveria ser suficiente para qualquer cristão sério fugir para longe.

Diga-me com quem andas

O mesmo evento conta com nomes de pastores assembleianos conhecidos, como pr. Marco Feliciano,  pr. Abílio Santana, pr. Carvalho Jr. Parece-me que não se dão conta que este tipo de associação valida um dos ministérios mais heréticos e vergonhosos do Brasil.  Não que estes pastores que citei sejam exemplo de ortodoxia, mas fazem parte da Assembleia de Deus e ao fazerem isso associam-na com este verdadeiro horror.  Sem contar que se auto-difamam.

Assim destrói-se a diferença entre pentecostalismo clássico, nascido do trabalho de Daniel Berg e Gunnar Vingren, e o neo pentecostalismo, nascido da confissão positiva de Kenneth Hagin e acrescida de sincretismos religioso.  Vira tudo uma coisa só.

O mais grave é pelo fato simples que o neo pentecostalismo brasileiro nem pode mais ser considerado cristão! É um movimento que deve ser rechaçado, pois causa vergonha ao Evangelho e desonra a Pessoa e Obra de Cristo. Não deve ser tolerado, que dirá apoiado e validado.

“Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?
E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?
E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” 2 Coríntios 6:14-16

Por isso é tão difícil hoje ser um pentecostal clássico.  A barreira entre o agir real do Espírito Santo e as palhaçadas gospel está sendo bombardeada por dentro e por fora da AD.

Internamente somos atacados por “reteté”, pregações emocionalistas “gideônicas”, pantominas de manifestações espirituais. Externamente somos alvejados pelo misticismo, superstições, sincretismos, incorporações de elementos judaizantes, teologia da prosperidade.  Como se não bastasse, agora tentam remover diferença entre os tipos de pentecostais.

Resta-me orar.

Oro por um pentecostalismo com ações reais e livres do Santo espírito, por pregações da Palavra de Deus e do evangelho sem subterfúgios.

Oro para que os pastores da AD não se deixem levar por este engano. Que a AD se levante como referencial de igreja pentecostal séria, que não tem parte com este movimento espúrio.

Oro para que um genuíno avivamento venha do Senhor , e leve-nos a todos à um profundo quebrantamento e arrependimento pelo que temos feito com o evangelho.

 

Primeiro ano de ministério

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Dia da consagração ao ministério, com pra. Edna, ir. Nila e pr. Teixeira

Dia 16 de agosto completarei um ano como evangelista. Passou rápido, mas ao mesmo tempo, parece que faz um século.
Tenho certeza do meu chamado, e vejo como confirmação a naturalidade que exerço a minha função. Recentemente uma amiga minha me perguntou se é difícil ser pastor. Respondi que é o que sou, é minha natureza, minha essência. Não percebo um esforço sobre humano, antes é uma rendição e entrega ao Senhor. O cansaço é principalmente por falta de tempo, o esforço é em conciliar vida profissional, familiar e a igreja.

Não quero minimizar a dificuldade do ministério.  “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” *. Pra mim, o ministério foi um encontro comigo mesmo, me sentir inteiro. Foi entender detalhes da minha trajetória, e como a Mão Dele me conduziu até este momento.

As minhas oscilações cessaram, como as tempestades sempre cessam ao ouvir a voz de Jesus. O espírito foi completamente direcionado por Ele, para a glória Dele. Não recalcitro mais contra os aguilhões. Era duro para mim.

Tenho percebido também como a proximidade desta condução do Senhor aumentou muito. São nos detalhes que mais preciso aprender, que Ele mais trabalha na minha vida. É o “intensivão”. Ele sabe que tenho que caminhar muito, e que o tempo é pouco. Logo, a marcha é acelerada. Dou glória a Cristo pelos mensageiros de Satanás, pois sei que meu Senhor os permite para fortalecer o meu domínio próprio e mansidão. Tudo coopera para o meu bem.

Mas, sobretudo, é uma vida de surpresas. Boas e ruins. “Minha vida é obra de tapeçaria, é tecida de cores alegres e vivas que fazem contrastes no meio das cores nubladas e tristes”**. Por um lado, me entristeço com a falta de percepção do evangelho de uns poucos, me compadeço com as lutas dos irmãos, mas, principalmente, me alegro por ele, pelo modo como o Senhor opera neles e por meio deles. As minhas ovelhas me surpreendem com grandeza, singeleza e simplicidade, e enchem a minha vida de beleza.

Apóstolo Paulo estava certo, o ministério é uma excelente obra. E Jesus é tão bondoso que permite que homens falhos como eu possam servi-lo desta forma, com Ele mesmo nos sustentando.

Soli Deo Gloria

*Trecho da música “dom de iludir”, de Caetano Veloso
**Trecho da música “tapeceiro”, de Stenio Marcius

Por onde anda a Poesia?

Sou um dos caras mais desatualizados da música gospel. Realmente, não curto muito as músicas que ouço nas rádios evangélicas.

Basicamente, tem três motivos:

1) Não concordo com a visão de Reino impregnada em várias delas. Nesse sentido, irmãos como o Pr. Ciro, que tem vários posts sobre esse assunto, e o Yago Martins, que fala com muita propriedade em um vídeo que vc pode ver na página “vídeos” deste blog (meio óbvio, né?). Sugiro inclusive que deem uma olhada também no Cante as Escrituras.

Quem sabe um dia resolvo me aprofundar no assunto e escrever sobre alguns desses “hinos”?

2) São muito repetitivos. Os caras conseguem fazer uma música com 7 minutos de duração e 3 frases! Haja paciência. Se eu gostasse de mantra eu era Hare Krisna, hindu, ou algo do gênero.

3) São feios mesmo. Pobres poeticamente, de harmonia, de melodia, de tudo. São ruins, então simplesmente não gosto.

Talvez você discorde de mim, e até fique com raiva. Não fique. É só a minha opinião, não quero que você se sinta constrangido(a) a concordar comigo.

Mas, na boa, quando ouço algumas músicas evangélicas mais antigas (e nem precisa ser tão antigas), e comparo com algumas de hoje, eu me pergunto: Por onde anda a poesia?

Palavras brincam conosco
Danças, folguedos e passeios
Troca de entendimento, o oposto
Do dito e desdito no solfejo.

Por onde anda a poesia?
Onde estará a sua trilha?
Nas canções ouvidas não a encontro.
Talvez apenas triste rima.

Queria louvá-lo eternamente.
Queria cânticos que subissem lentamente.
Sem a aridez jornalesca do muito dito,
Nem o mantra hipnótico repetido.

Por onde anda a poesia?
Onde estará a sua trilha?
Nas canções ouvidas não a encontro.
Talvez apenas triste rima.

Doce melodia que encanta,
Cantando minha alma se levanta.
Prazer brotado dos sentidos
Voltados para o Teu amor infindo.

Por onde anda a poesia?
Onde estará a sua trilha?
Nas canções ouvidas não a encontro.
Talvez apenas triste rima.

Trôpego poeta da escrita.
Pena de escritor com pouca tinta.
Não dos meu lábios surgiria
Os versos que minh’alma louvaria.

Por isso peço a ela
À só ela, amada poesia
Volte aos louvores ao Senhor
Sofro desde sua partida.


 

Bônus: Uma poesia de Sergio Lopes.  Ouça, vale o clic.

Acreditar é mais fácil do que pensar?

Ontem li uma frase, publicada no mural do facebook de alguém.

“Acreditar é mais fácil do que pensar. Daí existirem muito mais crentes do que pensadores.” Bruce Calvert.

Infelizmente, a opção de comentar estava desabilitada. Felizmente, por estar desabilitada, me deu uma vontade enorme escrever este post.

Percebemos claramente que o autor ainda pensa haver uma dificuldade em conciliar  fé e razão. Curiosamente, esta discussão foi abordada desde o período da Escolástica,  com Tomás de Aquino, e bem antes disso já debatido também por Agostinho de Hipona.

Normalmente, os que se acham muito originais são aqueles que não tem senso histórico.

Mas, o pior mesmo, é que as pessoas direcionaram seu objeto de fé, para aquilo que normalmente não tem a menor sustentação lógica.  Por exemplo, na estruturação de pensamento da frase acima, podemos dividir da seguinte forma: De um lado os “crentes” (os que não pensam), de outro, os “pensadores” (os que não creêm).  A partir desta divisão, os “pensadores” acham que pensam, e acham que os  “crentes” não pensam. Mas, na verdade, é justamente o contrário, absolutamente e totalmente, o contrário.

Estes “pensadores” tem uma fé pueril em verdades dogmáticas que eles mesmos não compreendem, e nem se dispõe a analisar. Aceitam qualquer afirmação “científica” como verdade total e inquestionável.  São xiitas do deus ciência. E, lamentavelmente, afirmam coisas que não compreendem, mas que somente ouviram falar. Sabe aquele lance de ouvir uma frase de efeito, achar bonita e ficar repetindo? Pois é.

Por exemplo, as pessoas comuns, os “pensadores”, adotam  como verdade inquestionável a teoria do Big Bang para explicar a cosmogenesis. Se resolveres questiona-la, podes ter certeza que vão primeiramente taxar-te de idiota, pois para esses “pensadores” já está provado e é a teoria mais aceita nos círculos acadêmicos. Mas ouso afirmar que 99.9% das pessoas que dizem acreditar nesta teoria NUNCA pensaram seriamente sobre ela, apenas repetem e repetem o que ouviram falar.

Eu por exemplo, creio que este teoria só terá algum sentido se adicionarmos o Deus cristão em sua equação. Somente um Deus não-criado, pré-existente e além da estrutura tempo-espaço poderia “fazer funcionar” o Big Bang.

Ou seja, se eu desconsiderar Deus, é IMPOSSÍVEL que tenha havido tal fenômeno, pois o mesmo contraria uma lei fundamental da física  e uma lei fundamental da biologia.

    1. Lei da Física – Inércia: É uma das primeiras leis formuladas por Newton, que afira que todo corpo em repouso tende em permanecer em repouso. Logo, considerando-se que inicialmente havia uma massa, uma matéria condensada que ocasionou a explosão, de acordo com a física esta explosão NUNCA poderia ter ocorrido, pois sem a aplicação de uma força externa ela teria PERMANECIDO EM REPOUSO. Já questionei isso algumas vezes com alguns descrentes, e a única explicação que ouvi foi a frase de Chicó : “não sei, só sei que foi assim”.

 

  1. Lei da Biologia: Um princípio simples – seres inanimados não geram seres animados. Se você discorda, peço que pegue duas pedras, bote elas para cruzar e veja se nascem novas pedrinhas. E aí tem uns tontos que falam: e abiogênese (teoria que defende que a vida pode ser gerada a partir de elementos químicos), tio Alcir ? Para isso eu respondo: me mostre somente UM exemplo concreto de uma experiência laboratorial que gerou vida a partir de elementos quimicos inanimados. Só unzinho, e retiro tudo que disse até aqui.  Simplismente não existe. é uma historinha da carochinha para tapar buraco.

Portanto, é notório que a inconsistência lógica e científica é negada apenas dogmaticamente. É a fé cega e burra dos “pensadores”.

Talvez nesse ponto eu tenha que concordar com o autor da frase que citei acima. Acreditar é mais fácil que pensar. Por isso que este “pensadores” acreditam em qualquer bobagem. E não pensam com suas próprias cabeças. Trocaria apenas o final: por isso que existem mais “pensadores” (gente comum, papagaio de pseudo cientistas) do que crentes.

Convite à Doce Revolução

por Caio Fábio.

foto por Alcir Filho

Artigo 1 – Fica decretado que agora não há mais nenhuma condenação para quem está em Jesus, pois o Espírito da Vida em Cristo livra o homem de toda culpa para sempre.

Artigo 2 – Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive os sábados e domingos, carregam consigo o amanhecer do Dia Chamado Hoje, por isso qualquer homem terá sempre mais valor que as obrigações de qualquer religião.

Artigo 3 – Fica decretado que a partir deste momento haverá videiras, e que seus vinhos podem ser bebidos; olivais, e que com seus azeites todos podem ser ungidos; mangueiras e mangas de todos os tipos, e que com elas todo homem pode se lambuzar.

Parágrafo do Momento:

Todas as flores serão de esperança, pois todas as cores, inclusive o preto, serão cores de esperança ante o olhar de quem souber apreciar. Nenhuma cor simbolizará mais o bem ou o mal, mas apenas seu próprio tom, pois o que daí passar estará sempre no olhar de quem vê.

Artigo 4 – Fica decretado que o homem não mais julgará o homem, e que cada um respeitará seu próximo como o Rio Negro respeita suas diferenças com o Solimões, visto que com ele se encontra para correrem juntos o mesmo curso até o encontro com o Mar.

Parágrafo que nada pára:

O homem dará liberdade ao homem assim como a águia dá liberdade ao seu filhote para voar.

Artigo 5 – Fica decretado que os homens estão livres, e que nunca mais nenhum homem será diferente de outro homem por causa de qualquer Causa. Todas as mordaças serão transformadas em ataduras para que sejam curadas as feridas provocadas pela tirania do silêncio. A alegria do homem será o prazer de ser quem é para Aquele que o fez, e para todo aquele a quem encontre em seu caminhar.

Artigo 6 – Fica ordenado, por mais tempo que o tempo possa medir, que todos os povos da Terra serão um só povo, e que todos trarão as oferendas da Gratidão para a Praça da Nova Jerusalém.

Artigo 7 – Pelas virtudes da Cruz fica estabelecido que mesmo o mais injusto dos homens que se arrependa de seus maus caminhos terá acesso à Arvore da Vida, por suas folhas será curado, e dela se alimentará por toda a eternidade.

Artigo 8 – Está decretado que pela força da Ressurreição nunca mais nenhum homem apresentará a Deus a culpa de outro homem, rogando com ódio as bênçãos da maldição. Pois todo escrito de dívidas que havia contra o homem foi rasgado, e assustados para sempre ficaram os acusadores da maldade.

Parágrafo único:

Cada um aprenderá a cuidar em paz de seu próprio coração.

Artigo 9 – Fica permanentemente esclarecido, com a Luz do Sol da Justiça, que somente Deus sabe o que se passa na alma de um homem. Portanto, cada consciência saiba de si mesma diante de Deus, pois para sempre todas as coisas são lícitas, e a sabedoria será sempre saber o que convém.

Artigo 10 – Fica avisado ao mundo que os únicos trajes que vestem bem o homem diante de Deus não são feitos com pano, mas com Sangue; e que os que se vestem com as Roupas do Sangue estão cobertos mesmo quando andam nus.

Parágrafo certo:

A única nudez que será castigada será a da presunção daquele que se pensa por si mesmo vestido.

Artigo 11 – Fica para sempre discernido como verdade que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem não ama jamais enxergará qualquer beleza em nenhum lugar, nem mesmo no Paraíso ou no fundo do Mar.

Artigo 12 – Está permanentemente decretado o convívio entre todos os seres; por isso, nada é feio, nem mesmo fazer amizades com gorilas ou chamar de “minha amiga” a sucuri dos igapós. Até a “comigo-ninguém-pode” está liberta para ser somente a bela planta que é.

Parágrafo da vida:

Uma única coisa está para sempre proibida: tentar ser quem não se é.

Artigo 13 – Fica ordenado que nunca mais se oferecerá nenhuma Graça em troca de nada, e que o dinheiro perderá qualquer importância nos cultos do homem. Os gazofilácios se transformarão em baús de boas recordações, e todo dinheiro em circulação será passado com tanta leveza e bondade que a mão esquerda não ficará sabendo o que a direita fez com ele.

Artigo 14 – Fica estabelecido que todo aquele que mentir em nome de Deus vomitará suas próprias mentiras e delas se alimentará como o camelo, até que decida apenas glorificar a Deus com a verdade do coração.

Artigo 15 – Nunca mais ninguém usará a frase “Deus pensa que…”, pois, de uma vez e para sempre, está estabelecido que o homem não sabe o que Deus pensa.

Artigo 16 – Estabelecido está que a Palavra de Deus não pode ser nem comprada e nem vendida, pois cada um aprenderá que a Palavra é livre como o Vento e poderosa como o Mar.

Artigo 17 – Permite-se para sempre que onde quer que dois ou três invoquem o Nome em harmonia, nesse lugar nasça uma Catedral, mesmo que esteja coberta pelas folhas de um bananal.

Artigo 18 – Fica proibido o uso do Nome de Jesus por qualquer homem que o faça para exercer poder sobre seu próximo, e estabelecido que melhor que a insinceridade é o silêncio. Daqui para frente, nenhum homem dirá “O Senhor me falou para dizer isto a ti”, pois Deus mesmo falará à consciência de cada um. Todos os homens e mulheres que crêem serão iguais, e ninguém jamais demandará do próximo submissão, mas apenas reconhecerá o seu direito de livremente ser e amar.

Artigo 19 – Fica permitido o delírio dos profetas, e todas as utopias estão agora instituídas como a mais pura realidade.

Artigo 20 – Amém!

Li este texto do Caio no blog: Desejando Deus. Tive que reproduzi-lo aqui, por causa sua da beleza e profundidade. A Deus toda a glória. E que o nosso amém continue a ecoar, e que o Senhor escreva estas verdades nas tábuas de carne do nosso coração.

Evangelho “Lua de Cristal”


Domingo a noite. Encaminho-me para o culto. Sempre que vou para igreja, gosto de colocar na rádio evangélica, na esperança que os louvores irão tornar o trânsito menos estressante, e que chegarei lá com um estado de ânimo mais propício a adoração que o meu habitual mau-humor após dirigir.

Fiquei ainda mais feliz por que na hora em que liguei o rádio estava sendo transmitido um culto ao vivo de determinada igreja, bem na hora da pregação. Massa! Mas, infelizmente, alegria de pobre dura pouco…

Tudo pode ser, se quiser será
O sonho sempre vem pra quem sonhar
Tudo pode ser, só basta acreditar
Tudo que tiver que ser, será”

O pastor está falando sobre fé para ter uma vida vitoriosa. Cita exemplos de pessoas que acreditaram em si, se esforçaram, e chegaram onde queriam. Minha cabeça começa a fervilhar com uma pergunta: “fé em quê? Em quem?”.

O que está sendo pregado afinal? A fé em Cristo, o evangelho, a Boa Nova de salvação, ou um bando de besteirol motivacional? Infelizmente, a segunda opção. Frases de efeito estão mais pra “Lua de Cristal” do que pra Evangelho do Reino. É uma pregação para agradar multidões, encher o templo, e que não tem a menor aplicação prática. A falta de poder deste evangelho é o simples fato de que ele não é real! Não é esta a promessa que o Senhor deixou para a Sua Igreja.

Não estou dizendo que é, em si, errado tentar motivar as pessoas. É errado fazer isso dizendo que é a Palavra de Deus. Com isso, gera-se uma geração de crentes enganados, em conflito com a fé quando perceberem que a vida cristã real não é como lhe havia sido apresentado.

O evangelho é contundente: quer um teste simples? I Co 2.14 diz :”Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” Se os desejos do homem natural são plenamente atendidos pelo evangelho que é pregado, o versículo acima fica sem sentido, pois a Palavra de Deus afirma que o homem natural não compreende o Evangelho, pois este lhe parece loucura.

Porém, qualquer homem natural há de achar insano a pregação que diz: renuncie a si mesmo, pegue a sua cruz e venha.

“Vamos com você
Nós somos invencíveis, pode crer
Todos somos um
E juntos não existe mal nenhum

Criou-se nos últimos anos a ideia de que crente com o Espírito de Deus não passa por sofrimentos. Eu queria saber de onde que tiraram esta conceituação. Afinal, o livro de Jó não trata justamente sobre isso? Jesus não avisou a Pedro que Satanás haveria de peneirá-lo como trigo ( Lc 22.31)? O dia mal irá vir, mais cedo ou mais tarde, daí a necessidade de estarmos preparados para resistí-lo (Ef. 6.13).

Lua de cristal
Que me faz sonhar
Faz de mim estrela
Que eu já sei brilhar”

Pra finalizar a mensagem o preletor conta uma historinha sobre o vagalume que brilhava e a cobra que tinha inveja do seu brilho, cita uma frase que leu em um carro (um aqueles adesivos gospel): “eu não morro de inveja, mas mato muito de inveja”. E além de citar uma frase como esta, ainda tem a falta de senso de pedir para o público presente que a repetisse para o irmão do lado.

Como pode uma cegueira tão absurda como esta??? Um sentimento profundamente anti-cristão está permeando toda a frase. Como assim, fazer algo com a intenção de matar alguém de inveja? Como assim, incentivar a vanglória humana, a nojenta e abjeta vaidade do homem, o orgulho a prepotência de quem se acha melhor que o outro baseado naquilo que ele tem? Que monte de esterco é esse que vendem como se fosse o Evangelho? Como assim?

Meu coração se parte de raiva e impotência por ver o evangelho rebaixado a este ponto. Isso não é Evangelho!!! Não foi por isso o sacrifício de Jesus!!!! Jesus morreu, sorveu cada gota do cálice da Ira de Deus para que o meu pecado não me aniquilasse, por misericórdia, por causa do amor por mim, mesmo eu sendo uma criatura repulsiva de pecado ante os Seus justos e santos olhos. ISSO é a Boa Nova de Jesus: você e eu merecemos o inferno, mas Ele nos livra por amor do Seu Nome. Ele é o único digno de adoração. ESTE é o Evangelho de Jesus.

Parem de macular a glória de Deus com desejos mesquinhos e baixos. Deus não é o cara lá de cima que vai te dar tudo o que você quiser. Ele é Deus e não você.

Aproveito para deixar um vídeo onde o Evangelho é pregado, sem subterfúgios.

Dicas úteis para ouvir a Palavra de Deus

Eu gosto de ouvir a pregação da Palavra de Deus, prazer que têm se tornado raro. Infelizmente, o que muitas vezes somos obrigados a engolir como se fosse da parte de Deus, é de uma falta de compreensão das Escrituras que causa pena, dó e asco.

Claro que existem homens de Deus que não estão muito preocupados com as modinhas evangélicas. E dou graças a Deus por eles existirem. Na verdade, a razão deste post é que tenho a felicidade de poder compartilhar um trecho de uma mensagem do Pr. John Piper, que não canso de ouvir (não sei quantas vezes já escutei-a).

Sei que é difícil para saber se àquilo que ouvimos tem boa procedência. Então, aproveito para dar uma dicas úteis de como se prevenir das bobagens teológicas, e dos cabras mal intencionados que querem tão somente explorar os incautos:

  1. Corra longe de quem começa a pregação com as animações típicas de auditório: “Olhe pro seu irmão e diga…”;
  2. Esqueça totalmente qualquer coisa que venha após as afirmações “Eu decreto”, “eu exijo”, e similares;
  3. Não receba a palavra de quem grita “RECEEEBBBAAAA”;
  4. Desconsidere as mensagem em que ouvimos mais sobre Satanás do que sobre Jesus, sua Graça, sua morte e ressurreição redentoras;
  5. Se o pregador for guarda de trânsito celestial, e começar “Põe um anjo aqui, outro acolá”, pode ficar desconfiado que lá vem bobagem altamente herética;
  6. Como disse o Pr. Ciro Zibordi “contentemo-nos com o Jesus bíblico
  7. Conte com o Espírito de Deus – Ele vai te mostrar o que não procede do Pai.

E que Deus nos dê uma mentalidade tal a qual esteve em Cristo. Fiquem com Deus.

A Voz, os Pés, e o Caminho

Sabe, eu queria ter todas as respostas. Queria que o meu caminho fosse plano e reto, pontilhado pelas certezas absolutas. O mapa certo, o caminho certo, o partir e chegar nos dias certos.
Eu queria a doce ignorância de não me preocupar com coisas que nunca vou entender. Passear pelos temas difíceis, crendo que tudo se resume ao dois-mais-dois-igual-a-quatro.

Mas não sou assim.Convivo com as dúvidas e incertezas. Meu caminho é estreito, com pedras e tocos que ferem os meus passos e enterram mais fundo o espinho no meu pé. Arrasto-me pelos valados, com o peso do meu pecado arqueando as minhas costas, tal o Cristão de Bunyan. Peregrino confuso, tropeço e levanto, procuro os sinais de que estou na direção certa.

Torna-se mais difícil o caminhar por conta dos falsos mestres, que distorcem a verdade que deveria ser a lâmpada para os pés. Cegos guiando cegos, pobres, miseráveis e nus. Já lhes foi sugerido que comprassem ungüento para seus olhos, mas ver é uma experiência pouco agradável. A luz mostra o que tentamos tolamente esconder.

Sabe, eu queria ter pernas mais fortes. Quando olho para frente, para o destino, fico amedrontado com a distância. Estou muito, muito longe. Por isso, tento esquecer o chegar, e aproveitar o caminho. Os espinhos, as vezes, anunciam a existência das rosas. A dor de confrontar a minha natureza anuncia que continuo no rumo.

Os passos cadenciados, o desejo de alcançar, o próximo passo. O heroísmo é a resistência por só mais um minuto. Só mais um minuto.

No meio confuso dos meus passos trôpegos, no meu caminho estreito, nas feridas que se fecham e abrem novamente, tem uma voz que me acalma e me chama. Sabe aquela voz que você conhece antes mesmo de tê-la ouvido pela primeira vez? Pois é, essa mesmo. Ajusto-me a sua direção, mesmo com sua palavra dura, por que somente ele tem as palavras de vida eterna.

Contar os Anos

“Ensina-nos a contar os nossos anos, para que tenhamos coração sensato!” (Sl 90,12)

Preciso aprender a contar os anos. Sempre fui ruim nesse aspecto, nunca me percebendo na idade certa.

Por ser o caçula de quatro irmãos, acelerei, pulei etapas, na ânsia de me livrar do estigma de caçulinha.  Queria estar no mesmo momento de vida que meus irmãos, ser mais velho que era. Lia os mesmos livros, queria fazer o que eles faziam, media a minha vida pela deles.  E envelheci cedo.

Fui o único menino de treze anos que lia Nietzsche da redondeza. E achava que entendia. Debatia sobre política, filosofia, religião, música com os caras mais velhos, muitas vezes dominando certos assuntos melhor que eles. A consequência foi um ego cada vez mais inchado. Para mim, todos os que não eram eu, eram carentes de inteligência.

Aos dezoito, pensava que sabia tudo da vida, que era o “descolado”. Via-me adulto feito, pronto para todos os desafios que viessem.  Era o dono da razão, sempre.  Então, tomava decisões sozinho, pois só eu era o certo.

Mas o fato é que eu era ainda mais estúpido que hoje. Não enxergava um palmo na frente dos meus olhos, um avestruz com a cabeça enfiada na terra. Era inocente e não sabia. Acreditava nas pessoas, porque cria que eram boas. Mergulhava de cabeça, pois não tinha parâmetros para a dor. Não tinha descoberto que o lago, às vezes, é raso.

Como não contava os anos, não sabia que eu era um menino.   Magoei muita gente querida enquanto quebrava a cara.  Soquei facas, fazendo pose de macho, cauterizando choro que não ousava chorar.

Comecei a ser gente lá pelos vinte e quatro. Uma voz chegou aos meus ouvidos: “Não importa quão precoce você é, você não tem experiência de vida”.  Vi ruir minha prepotência, meu orgulho virou cacos. Havia lama nos meus olhos, enfim lavada pelas lágrimas que pude, finalmente, derramar.

Ainda busco contar os anos de modo certo, e ainda sou o cara de trinta anos mais velho da redondeza. Não tenho um coração sensato. Mas aprecio o passar dos anos, a serenidade que passo a passo tem chegado.E sei que no tempo certo, chego lá.